Com o pavilhão Carlos Lopes cheio, o PS realizou ontem à noite o último comício na capital, antes do encerramento da campanha eleitoral para as legislativas de domingo que terá lugar esta noite na cidade do Porto, com o histórico dirigente socialista, Manuel Alegre a lamentar o fim da ‘geringonça’ e a acusar comunistas e bloquistas de terem regressado “à tradição de sectarismo”, ao terem “juntado os seus votos à direita e à extrema-direita para chumbarem um orçamento progressista” e abrindo uma crise política desnecessária.
Depois de enfatizar de forma veemente que o PS “não é herdeiro nem de Trotsky, nem de Lenine”, mas de homens e de democratas como “Leon Blum ou Olaf Palm”, um partido, como também realçou, que é da “esquerda democrática e reformista”, Manuel Alegre elogiou António Costa por ter sabido “ultrapassar traumas e derrubado muros”, apesar de todas as vicissitudes, lamentando que o “sectarismo anti-PS não tenha facilitado a construção de pontes e de convergências” à esquerda.
O histórico socialista lembrou que durante todo o seu percurso político sempre se bateu por projetos que levassem à “convergência das esquerdas”, algo que uma vez mais, infelizmente, como assinalou, voltou a não ser possível, lamentando que durante toda a campanha eleitoral PCP e BE tenham feito “companha contra o PS, como se o PS fosse o inimigo principal”.
É sabido, disse ainda o antigo candidato presidencial, poeta e escritor, que o “sectarismo corta a convergência e torna o diálogo mais difícil”, mesmo para quem, como salientou, “sabe fazer pontes”, como é o caso de António Costa, avisando a líder do BE, Catarina Martins, que não se pode passar a campanha a atacar António Costa e depois, “com alguma presunção”, convidá-lo para uma reunião em 31 de janeiro.
O PS, disse ainda Manuel Alegre, “não se confunde nem se engana no adversário político”, garantindo que o confronto do PS é com o PSD e com “os seus aliados de direita e, pelos vistos agora também de extrema-direita”, e que o objetivo político dos socialistas “é vencer as eleições e impedir um retrocesso social e político”.
Redesenhar a democracia
Quanto ao surgimento de um partido de extrema-direita há relativamente pouco tempo no xadrez político nacional, Manuel Alegre disse não ter dúvidas que esta “má novidade” vem introduzir, caso se venha a consolidar no futuro, um elemento de grande perturbação na vida do país e na vida dos portugueses, mas “também nas relações de Portugal com os países africanos”, acusando o PSD de ter sido permeável às teses do Chega quando lhe abriu as portas do Governo regional dos Açores, algo que para Manuel Alegre seria impensável aceitar por parte de um partido que se reclama da democracia.
Em relação à Iniciativa Liberal, Manuel Alegre não tem dúvidas de que se trata de um partido profundamente influenciado, política e economicamente, pela chamada Escola de Chicago, defensora de políticas económicas neoliberais, garantindo que a direita em Portugal, e um pouco por toda a Europa, começou já “dentro da própria democracia” a desenhar a construção de “princípios de radicalismo e de intolerância”.