Nascido em 1939, em Lisboa, veio a licenciar-se no ano de 1961 pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde juntou à atividade académica e associativa a ação política sustentada e continuada de oposição à ditadura então vigente. O avolumar da sua consciência política viria a dar-se ainda enquanto estudante universitário. Foi Presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1959-60 e em 1960-61, e Secretário-geral da Reunião Inter-Associações Académicas (RIA), em 1961-1962, tornando-se, nessa qualidade, dos grandes nomes e rostos da contestação estudantil ao regime ditatorial que desencadeou a crise académica de 1962.
Nas eleições legislativas de 1969, volta a desafiar o regime, candidatando-se à Assembleia Nacional pela Comissão Democrática Eleitoral (CDE). A sua atividade política e intelectual desta altura fica marcada pela constância e pela resistência à ditadura, defendendo um novo modelo, em que imperassem a polifonia democrática e a liberdade, de base socialista e em sintonia com os novos contornos daquele que era o novo pensamento político europeu.
Advogado de mérito, tendo frequentemente representado presos políticos, bateu-se pelo papel cívico dessa classe profissional e pelo estabelecimento das liberdades e de um regime democrático que atendesse a todos.
Logo após o 25 de Abril, de 1974, foi fundador do Movimento de Esquerda Socialista (MES), que viria a abandonar logo no primeiro congresso. Em março de 1975, com Melo Antunes como Ministro dos Negócios Estrangeiros, é nomeado Secretário de Estado da Cooperação Externa do IV Governo Provisório. No decorrer do mesmo ano, funda, juntamente com outros políticos e intelectuais, a Intervenção Socialista, movimento dedicado à reflexão política.
A adesão formal ao Partido Socialista viria a dar-se em 1978 e, nas eleições legislativas de 1979, seria eleito deputado à Assembleia da República, precisamente pelo Partido Socialista, a cujo Grupo Parlamentar presidiu entre 1986 e 1987. Foi eleito Secretário-geral do PS em 1989, assumindo essas funções até 1992.
Um importante passo do seu percurso político foi a Câmara Municipal de Lisboa, para a qual foi eleito Presidente em 1989, depois de ter conseguido formar uma candidatura multipartidária e com grande representação cívica e associativa. Marcou o desempenho dessas funções pela visão estratégica, por uma preocupação social fortemente inclusiva e por uma modernização da cidade de que hoje todos os lisboetas beneficiam. Deixaria esse cargo em 1995, para se candidatar à Presidência da República, sendo eleito logo à primeira volta, tendo sido reeleito em 2001.
A Presidência da República de Jorge Sampaio, em ambos os mandatos, carrega a marca indelével da cultura humanista. Mas não se esgota aí. Além-fronteiras, e além de um forte impulso à plena integração europeia, o Presidente da República Jorge Sampaio fez ecoar em todo o mundo a voz de Portugal na defesa da causa pela independência de Timor e presidiu à transferência de soberania de Macau para a República Popular da China. Os dois mandatos de Jorge Sampaio no mais alto e digno cargo da nossa nação ficaram também marcados pela reflexão em torno dos poderes do Presidente da República, enquanto referência e baluarte de estabilidade política e do regular funcionamento das instituições democráticas.
Após a Presidência da República, Jorge Sampaio continuou a pautar a sua vida pela defesa dos valores humanistas, da ética e da solidariedade. O conjunto da sua obra publicada, versando temas culturais, sociais e políticos, nacionais e internacionais, é apenas um dos muitos exemplos que ilustram o seu legado. Outro é certamente a Associação Plataforma Global para Estudantes Sírios (APGES), criada sob sua égide e com o intuito de criar condições para jovens sírios poderem continuar a estudar apesar da guerra civil.
Dando continuidade à sua intensa atividade em prol de um mundo cada vez mais solidário e mais justo para todos, em maio de 2006, foi nomeado pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas Enviado Especial para a Luta contra a Tuberculose. Em 26 de abril de 2007, foi nomeado Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. A ONU reconheceria o trajeto mundial de Jorge Sampaio na defesa dos direitos humanos, ao escolhê-lo para ser um dos vencedores do Prémio Nelson Mandela em 2015, na primeira vez na história das Nações Unidas que o prémio foi atribuído.
Também Portugal soube expressar a Jorge Sampaio a sua imensa gratidão, patente nos quatro doutoramentos honoris causa que lhe foram outorgados, pela Ordem da Liberdade e pela Ordem do Infante D. Henrique – apenas para citar dois exemplos – que lhe foram atribuídas e pelas inúmeras homenagens de cariz civil e espontâneo que lhe foram prestadas ao longo dos anos, como testemunho de afeto e de gratidão.
Hoje, no dia em que o grande coração do nosso Camarada Jorge Sampaio deixou de bater, é altura de os socialistas e todos os portugueses lhe prestarem uma última homenagem de reconhecimento. Usando palavras que ele mesmo dirigiu aos lisboetas, é altura de lhe deixar um aceno de eterna saudade.
A sua esposa, filhos e demais familiares e amigos, o Partido Socialista endereça as mais sentidas condolências, manifestando-lhes a mais profunda solidariedade. A todos, asseguramos que saberemos desempenhar com elevação o dever de manter viva a chama da sua memória e o exemplo da sua luta incansável por um mundo melhor para todos.