“Foi há 38 anos, em 1983, que pela primeira vez entrei neste hemiciclo trazendo comigo a condição da juventude e todos os sonhos do mundo”, começou por afirmar Jorge Lacão, que salientou a “honra de ter podido servir o país”.
O antigo ministro dos Assuntos Parlamentares admitiu que sente “um indisfarçável sentido de orgulho” na hora de despedida e asseverou que, 38 anos depois, parte “com a mesma crença nos ideais de liberdade, justiça e serviço ao bem comum”.
Jorge Lacão revelou que aprendeu, ao longo do seu percurso parlamentar, que “qualquer que seja a inspiração política e doutrinária, só uma atitude de independência pessoal” permite respeitar as convicções de cada um.
Dirigindo-se a Ferro Rodrigues, que também não voltará a integrar as listas para a Assembleia da República, desejou-lhe “as maiores felicidades pessoais para a sua vida futura”. “Creio sinceramente que, ao final de intensas vidas políticas e de dedicação à causa pública, ambos vamos poder desfrutar da sensação de dever cumprido, embora a constante inquietação sobre os destinos do país nunca nos vá abandonar”, concluiu.
Já Eduardo Ferro Rodrigues recordou, na sua “despedida das atividades parlamentares”, os diversos cargos que ocupou desde que entrou na Assembleia da República em 1986, “como deputado, líder parlamentar, vice-presidente” e ainda aquela que é a “maior honra” da sua vida – “ter servido como presidente da Assembleia da República, ter servido como presidente de todas e de todos os deputados”.
“A mais honrosa das tarefas da minha vida” foi ser presidente da Assembleia da República, reforçou, explicando os motivos: “Desde logo pelas circunstâncias particulares que levaram à minha eleição em outubro de 2015 e pelo reforço do apoio dos meus pares, que levou à minha reeleição ainda em 2019, elevando ainda as minhas responsabilidades como presidente de todas e de todos os deputados. Depois pelo facto de ter sido presidente num tempo excecional, em que a democracia e as suas instituições estiveram muitas vezes sob ataque, como há muito não se verificava, das mais diversas frentes contra as deputadas e os deputados, procurando condicionar a sua ação e o seu mandato que é – nunca esqueçamos – o resultado da decisão livre dos nossos cidadãos expressa pelo voto”.
“Tempo excecional também por termos tido de enfrentar uma inesperada crise pandémica de trágicas dimensões sociais, económicas e humanas, que alterou radicalmente as nossas vidas e a nossa vida em sociedade e o funcionamento da Assembleia da República, órgão de soberania, que foi chamada a autorizar o primeiro estado de emergência da democracia”, acrescentou.
Ferro Rodrigues mostrou-se em seguida orgulhoso por, mesmo em pandemia, a democracia não ter sido suspensa “e a sua casa – a Assembleia da República – nunca fechou as suas portas”.
O socialista realçou depois que “não basta ao Parlamento aprovar leis ou ser, de tempos a tempos, palco de importantes debates políticos”, sendo “necessário que o Parlamento saiba prestar informação sobre a sua atividade e a dos seus titulares, assim completando o círculo da representação”.
“Chegando ao fim dois anos antes do que supunha – do que todos supúnhamos –, esta foi uma longa viagem, com muitas alegrias, não isenta de episódios menos felizes, tristes mesmo”, como a morte de “grandes amigos e estadistas”, sublinhou.
No entanto, apesar de “algumas tormentas” nesta viagem, Ferro Rodrigues revelou que a política continuará a fazer parte da sua vida, “porque realmente um político nunca abandona, em definitivo, a política. E eu, tal como até aqui, continuarei a estar na primeira linha da defesa da democracia e da liberdade”.
Eduardo Ferro Rodrigues concluiu o seu discurso com uma garantia: “Com um Parlamento forte, respeitado, haverá melhores condições para ajudar Portugal – e o mesmo é dizer as portuguesas e os portugueses que aqui são representados – a enfrentar e a superar os muitos e cada vez mais exigentes desafios com que, como nação e como povo, nos deparamos. A todas e a todos, sem exceção, o meu muito obrigado”.