O dirigente socialista começou a sua intervenção, durante a apreciação do relatório final da comissão de inquérito, a citar o depoimento de Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal e, nessa condição, responsável pela venda do Novo Banco: “A questão é sempre a mesma – eu vou vender um cabaz de fruta que, parcialmente, está apodrecida. Eu não posso contar com a benevolência ou a generosidade do comprador para que ele me pague toda a fruta como sendo de qualidade”.
“Em agosto de 2014, Carlos Costa, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque tinham prometido um ‘banco bom’ e sem custos para os contribuintes. Volvidos perto de sete anos, Carlos Costa reconheceu que, afinal, o Novo Banco estava carregado de ativos tóxicos”, apontou o deputado, que assegurou que este depoimento do anterior governador do Banco de Portugal “veio confirmar o que o Partido Socialista sempre afirmou a respeito da resolução – a doença do BES passou para o Novo Banco”.
João Paulo Correia explicou que a separação entre um ‘banco bom’ e um ‘banco mau’, “com a passagem de ativos tóxicos para o Novo Banco, está na origem das perdas suportadas pelo Fundo de Resolução desde 2014”. E acrescentou que, “não menos importante, a resolução incorporou também o compromisso da venda do Novo Banco no prazo de dois anos, um compromisso negociado por Carlos Costa, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque com a Comissão Europeia e que representou um constrangimento à tomada de outras opções no futuro”.
“Por tudo isto, era do superior interesse público que os trabalhos do inquérito percorressem toda a fita do tempo, desde a gestão do BES aos últimos dias de atividade do Novo Banco”, defendeu o vice-presidente da bancada do PS, que mencionou que, “em boa hora, por proposta do Partido Socialista, a Assembleia da República empregou os novos poderes dos inquéritos parlamentares na procura de toda a verdade”, o que permitiu aceder ao relatório João Costa Pinto, ex-presidente do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal, que esteve “escondido durante seis anos no cofre do Banco de Portugal e que se revelou uma peça essencial sobre as falhas de supervisão na gestão do BES”.
O Partido Socialista, um dos partidos requerentes deste inquérito parlamentar, moveu-se sempre pela “procura e apuramento imparcial da verdade”, congratulou-se João Paulo Correia, que atestou que “ficou provado que a venda salvaguardou o interesse público”.
O Grupo Parlamentar do PS considera “essencial estabelecer uma relação direta entre o apuramento dos factos e as conclusões aprovadas”, asseverou o socialista, que garantiu que “o relatório preliminar refletiu com abrangência, rigor e imparcialidade os factos apurados nos depoimentos e documentação remetida aos deputados”. No entanto, “por força da partidarite, o relatório preliminar foi injustamente acusado de enviesamento”, lamentou.
“Quem tiver a oportunidade de ouvir as audições verificará que a matéria mais relevante está transposta para o relatório preliminar e ao ler as conclusões aprovadas irá verificar que parte delas não têm adesão ao apuramento dos factos. Refiro-me em particular ao capítulo da venda do Novo Banco. Parte do relatório foi indevidamente aproveitada para um ajuste de contas com o anterior Governo do Partido Socialista, um tacticismo partidário que alia o Bloco de Esquerda à direita”, denunciou João Paulo Correia, que falou em conclusões “falsas” e algumas “contraditórias”.
No final da sua intervenção, o parlamentar deixou uma garantia: “Encerrado o inquérito, estamos certos de que a ação dos deputados do Partido Socialista contribuiu para que os contribuintes estejam hoje mais esclarecidos sobre o que aconteceu no BES e no Novo Banco”.