Investimento público deve ser o motor do crescimento
Em entrevista ao “DN” de sábado, esta economista italiana frisa que o que importa não é o défice mas a relação dívida /PIB, apontando que em países como Itália e Portugal “a produtividade não tem estado a aumentar e, consequentemente o PIB também não, porque não se investiu em nenhuma das áreas que o fazem crescer, como a formação do capital humano (para lá da simples educação), investigação e desenvolvimento e nas instituições fundamentais que permitem as ligações entre a ciência e a indústria (como os centros Fraunhofer alemães, por exemplo”.
Para Mazzucato, “isso é o que faz a diferença na competitividade entre os países do Sul (os difamantes PIGS) e a Alemanha”, adiantando que “não é a história que costumamos ouvir de que de alguma maneira a Alemanha apertou o cinto, enquanto os PIGS perdulários gastaram demasiado”.
A autora do livro “O Estado empreendedor”, que abalou o debate sobre as estratégias de crescimento e desenvolvimento, explica que “a razão para empresas alemãs como a Siemens ganharem contratos por toda a Europa é porque fazem parte de um ecossistema de inovação, em que o lado público investiu diretamente em todas as espécies de áreas que aumentam não só a produtividade mas também a inovação, o que inclui, por exemplo, um banco público, o KfW, que continua a ser um dos maiores investidores mundiais nas áreas inovadoras, como a tecnologia verde”.
Mazzucato considera que ”o diagnóstico errado do problema na Europa (acima de tudo quem gasta demasiado ou pouco) está a trazer-nos o remédio errado”, adiantando que “em vez de termos essa regra prejudicial dos 3%, deveríamos ter uma regra em que esses países (do Sul) construíssem esse tipo de instituições dinâmicas e estratégicas”.
A economista italiana sublinha ainda que o país mais liberal de todos, os EUA, é dos mais ativistas no que concerne ao financiamento público a empresas que apostam na inovação, apontando a Apple, o Google ou a Internet, como exemplos de tecnologia desenvolvida por investigação financiada pelo Estado.
Mazzucato considera inda que “atrair investimento com menos impostos aumenta a desigualdade, não o investimento”, porque, explica, “o sector empresarial só investe quando vê uma oportunidade, aquilo a que Keynes chamava espírito animal, e essas oportunidades têm sido historicamente resultado de quantidades intensivas de investimento público direto em novas áreas”.
Alemanha é forte porque investe
Na entrevista, a economista refere que os problemas de Portugal não começaram com o euro ou com a troica, sublinhando que ”são o resultado de décadas de falta de investimento não só em áreas de I&D como também na construção de instituições públicas que permitam que a I&D se expanda verdadeiramente através da economia”.
Acrescentando que “se querem ‘competitividade’ então devem olhar em volta do mundo e perceber de onde vem a competitividade, ou seja, de investimentos públicos estratégicos que posam atrair investimentos privados”.
Por isso, defende que “precisamos de uma nova narrativa na UE que compreenda este problema. A Alemanha é forte porque investe e não porque corta nos salários”.
QUEM É MAZZUCATO? Professora de Economia da Inovação na Universidade de Sussex, no Reino Unido, Mariana Mazzucato é uma das mais destacadas pensadoras internacionais sobre políticas de inovação e sobre o papel do Estado no crescimento da economia. Em 2013 publicou o livro “O Estado Empreendedor”, ainda sem edição portuguesa, considerado como uma obra fundamental para a compreensão e discussão sobre os rumos do capitalismo moderno e listado pelo “Financial Times” como o livro do ano. É conselheira económica do governo escocês, comissária do World Economic Forum e membro permanente do grupo de especialistas em inovação da Comissão Europeia. Em 2013 venceu o prémio SPERI de política económica. |