HÁ MALES QUE VÊM POR BEM
O presidente da Câmara do Porto, se bem que seja um novato nestas andanças, tinha obrigação de saber já que em política não há almoços grátis e que a vitória de um candidato, em qualquer eleição, também é dos seus apoiantes. Elementar! Ou será que Rui Moreira terá o tique ditatorial de não querer partilhar os seus sucessos eleitorais com ninguém? Qualquer bom politico, que não parece o caso de Rui Moreira, quando ganha, divide a vitória com todos os que o apoiaram, quando perde, assume sozinho a responsabilidade pela derrota.
Como que a ilibá-la de qualquer culpa, e reafirmando-lhe toda a confiança, António Costa entrou ao lado de Ana Catarina Mendes na Convenção Autárquica do PS, que se realizou no fim-de-semana, em Lisboa. Manuel Pizarro é o novo candidato do PS no Porto – uma candidatura autónoma, escolha da concelhia, na qual António Costa negou ter interferido. O líder do PS diria, no entanto, sobre o caso Rui Moreira, que não nos queremos sentir indesejados em parte nenhuma. Na mesma linha, Pizarro, que é vereador da Câmara do Porto, teve uma expressão curiosa: é preferível uma boa amizade a um casamento indesejado. Para quem nunca viu com bons olhos o apoio do PS a Rui Moreira, pode dizer-se que há males que vêm por bem ou, então, que Deus escreve direito por linhas tortas. Mas há já quem diga, quanto a mim erradamente, que o que se passou no Porto baralha as contas das autárquicas. Não o creio. O PS continua favorito.
A vitória dos socialistas a nível nacional, e não está provado que Pizarro perca no Porto – em democracia não há derrotas antecipadas -, não me parece que esteja em causa. Foi até já admitida pelos próprios adversários, designadamente por Marques Mendes e por Passos Coelho, que disse não se demitir em caso de mau resultado. Este último, comentando o caso Rui Moreira, afirmou que o PSD não corre o risco de ver o seu apoio enxotado por qualquer Presidente de Câmara. Esqueceu-se, porém, que o seu partido corre um risco muito maior – o de ser enxotado pelos portugueses, como deverá acontecer a 1 de outubro e nas legislativas de 2019. E Passos talvez seja também enxotado pelo PSD. Teria sido melhor estar calado. Continuo a dizer que as autárquicas de outubro são mais decisivas para o PSD do que para o PS, porque se joga a liderança de Passos. E os socialistas podem festejar a queda deste e a derrota do PSD nas eleições – será uma festa dupla!