Governo português é pedrada no charco na Europa
Ana Catarina Mendes, que falava na conferência dos secretários-gerais do PSE, que decorreu ontem e hoje em Londres, subordinada ao tema “Formar coligações governamentais progressistas”, sublinhou que “esta experiência em Portugal é inovadora no país e é uma pedrada no charco na Europa”.
Na sua intervenção, a Secretária-geral adjunta socialista afirmou que com as eleições em Portugal, a 4 de outubro, o Partido Socialista abriu “uma nova porta no sistema político português”. Ou seja, frisou, “52% os portugueses votaram contra a austeridade e foi necessário transformar este voto contra a austeridade na formação de um governo”.
“António Costa foi capaz de negociar, de aproximar os partidos à esquerda do PS com realismo e pragmatismo”, disse, lembrando que havia três possíveis cenários: deixar a direita governar – que seria trair o eleitorado e os nossos valores; aceitar coligação cm a Direita – que implicaria estar do lado da austeridade; e criar uma nova solução, apelando aos partidos à esquerda do PS a escolherem um lado, a aceitarem o nosso desafio e a convergir”.
Unidos na “aposta numa alternativa capaz de ‘vira a página à austeridade’”, Ana Catarina Mendes frisou que “foi possível, pela primeira vez em 40 anos, garantir a formação de um Governo minoritário apoiado no Parlamento pelos partidos à esquerda do PS”.
Há alternativa à austeridade
Referindo que “esta aliança sem precedentes era inimaginável” e que “este é o primeiro governo deste molde desde que há democracia em Portugal”, a dirigente socialista disse “na formação deste Governo, como na sua atuação, vê-se e ver-se-á que ‘There is No Alternative’ é uma narrativa, é uma escolha marcadamente ideológica com que é preciso romper; vê-se e ver-se-á que existe alternativa, que esta é a alternativa que se está a construir”.
E isto porque, acrescentou, “quem ganha com esta mudança são todos os que têm o compromisso com a distribuição equilibrada dos rendimentos e com a coesão social. Mas também porque quem perde é quem consistentemente apostou que, fora do quadro do Partido Popular Europeu, é impossível governar no sul da Europa”
Com esta opção, frisou, “o PS escolheu estar do lado de que está descontente com a política europeia”, acrescentando que “os partidos socialistas hoje são forçados a escolher entre associarem-se a políticas restritivas ou, cada um à sua maneira, encontrar soluções alternativas”.
Lembrando que “os partidos socialistas europeus vivem, em geral, momentos de crise, não se sabem comunicar, não se conseguem classificar no panorama político”, defendeu que “ao mesmo tempo que imprimimos reformas e mudanças no país, através do Governo, temos de ser capazes de nos reinventar como partido”.
Ana Catarina Mendes defendeu que “o contributo deste Governo do PS para esta discussão é o de evitar o desaparecimento de um partido socialista, como na Grécia. E está na mesma linha do que estão a fazer os socialistas italianos e franceses”.