“O primeiro-ministro tem que decidir com quem quer construir as soluções de Estado, as soluções de soberania”, disse o líder socialista, sobre a aproximação do Governo da AD ao Chega. “E o primeiro-ministro tem que ter consciência histórica e tem que ter memória do que significa o Partido Socialista, do que significa o PPD e do que significa o CDS”, partidos “que construíram as liberdades, os direitos e as garantias fundamentais”, acrescentou.
José Luís Carneiro vincou que se o líder do executivo e do PSD persistir em alinhar posições com o Chega, como aconteceu na passada sexta-feira passada, “isso significa uma rutura com o Partido Socialista”.
“Nunca o PS pode ser colocado ao nível de um partido que atenta contra os valores democráticos e se o primeiro-ministro não é capaz de distinguir essa representação política e social, então o primeiro-ministro “não está à altura das responsabilidades que está a desempenhar” e “não está habilitado para definir e defender o interesse nacional”, asseverou.
O Secretário-Geral do PS foi particularmente duro em relação ao que classificou como um “grave erro” do Governo da AD, na aliança que fez com o Chega a propósito das alterações às leis da nacionalidade e de estrangeiros, “cujos impactos ainda estão por avaliar”.
“Há uma grande inquietação dos países de língua portuguesa sobre aquilo que se está a passar em Portugal, relativamente ao modo como a AD, que tinha responsabilidades especiais na valorização da nossa relação com os países amigos e de língua portuguesa, caiu nesta matéria nos braços do Chega”, apontou.
Lembrando, a título de exemplo, que vivem hoje mais de 130 mil portugueses em Angola, país para o qual mais de 5 mil empresas exportam e onde cerca de 120 empresas nacionais trabalham e investem, a par da presença em Cabo Verde, em Moçambique ou no Brasil, com quem Portugal tem uma relação privilegiada e um tratado de reciprocidade, o Secretário-Geral socialista advertiu que “as posições que foram adotadas por parte do Governo quebram uma dimensão de convergência estratégica que há, pelo menos, desde 1976, entre o PSD, o PS e o CDS, em relação à política externa portuguesa”. “Isto vai ter efeitos muito nocivos na relação entre o PS e a AD”, afirmou.
José Luís Carneiro admitiu que Luís Montenegro ainda tenha “espaço de recuo” sobre esta matéria, mas defendeu que o primeiro-ministro “vai ter que explicar ao Parlamento qual foi o princípio de acordo que o líder do Chega referiu há dias”. “Em que é que consiste esse princípio de acordo? Quais são os termos desse princípio de acordo? Quem tem que responder a isto é o primeiro-ministro”, desafiou.
Sobre a carta que enviou a Luís Montenegro a propor um acordo estratégico de investimento na Defesa, o líder socialista referiu que “o primeiro-ministro não respondeu a nenhuma das questões que foram colocadas”.