Governo deu prioridade à mobilidade com ambicioso programa Ferrovia 2020
“O Governo do Partido Socialista elegeu a mobilidade como um dos aspetos centrais da sua governação. Com essa escolha ficou claro que era indispensável fazer uma aposta na ferrovia portuguesa”, declarou hoje o vice-presidente da bancada do PS Carlos Pereira durante o debate, no Parlamento, sobre o Plano Ferroviário Nacional, marcado pelo Bloco de Esquerda.
Segundo Carlos Pereira, o diagnóstico efetuado pelo Executivo depois de tomar posse não dava margem para dúvidas: “Enquanto a rodovia foi beneficiada com muitos investimentos, tornando-a numa das mais competitivas da Europa e colocando-a na linha da frente mundial, a ferrovia foi-se degradando e o sub-investimento a que foi submetida ao longo dos anos tornou Portugal num dos países europeus com uma das redes ferroviárias menos modernas e adequadas aos desafios da mobilidade”.
Deste modo, “o Governo do Partido Socialista entendeu dar prioridade ao investimento na ferrovia e fê-lo através de um ambicioso programa denominado Ferrovia 2020, que compreende mais de dois mil milhões de investimento, que está em execução e cuja continuidade está já assegurada no Plano Nacional de Investimentos”.
O parlamentar socialista, que garantiu que o partido tem consciência de todas as dificuldades, explicou que “se é certo que algumas das abordagens implementadas não correspondem totalmente às expectativas definidas para esta legislatura, também é demonstrável que as exigências depositadas na ferrovia para esta legislatura cresceram bastante mais rápido e com mais profundidade que a capacidade potencial do país em responder no tempo e na dimensão certa para evitar bloqueios, atrasos e constrangimentos”.
“Encontrámos um país a perder passageiros nos transportes públicos e era preciso inverter essa tendência”, asseverou.
E essa inversão está em curso também na ferrovia, mas surgiu outro problema, tal como referiu Carlos Pereira: “A capacidade do sistema ferroviário nacional – que, como sabemos, foi abandonado ao longo de muitos anos – em responder ao crescimento da procura que ocorre por via dos incentivos do Governo, como seja o caso dos passes sociais mais baratos, ou pelo dinamismo crescente do turismo”.
Ora, estamos “perante uma situação em que o ritmo de crescimento da procura supera largamente a capacidade do país em modernizar e alargar a capacidade do sistema ferroviário nacional”, vaticinou.
Há 20 anos que CP não tinha um plano de material circulante
Carlos Pereira alertou depois para o estado da CP, que é “absolutamente central em todo o processo e tem revelado fragilidades de capital e de recursos humanos para poder responder a todos os desafios”.
“Por outro lado, a EMEF, entidade de manutenção absolutamente essencial para fazer face a uma frota bastante antiga, sofreu no passado um processo de desmantelamento e de governança que tem comprometido a resposta que se esperava”, mencionou o socialista numa alusão às más políticas do anterior Executivo PSD/CDS.
Apesar de todos os constrangimentos, “observa-se um enorme esforço que tem permitido avançar com algumas obras que estão em curso e ter concluído já outras tantas”. “Além disso, a CP teve pela primeira vez em 20 anos um plano de material circulante que lhe permitirá repor, nas linhas regionais, o nível de qualidade e serviço adequado”, congratulou-se.
Proposta do BE é apenas mais um Plano de Investimentos
Relativamente à proposta que o Bloco de Esquerda trouxe ao debate, denominada Plano Ferroviário Nacional, Carlos Pereira considerou que é “mais um Plano de Investimentos na Ferrovia do que um planeamento a longo prazo da ferrovia nacional”. Ora, o diploma “levanta alguns problemas que esbarram, por um lado, com o investimento em curso – a Ferrovia 2020 – e, por outro, com o plano de investimentos previstos para a ferrovia no quadro do Plano Nacional de Investimentos”, garantiu.
O Partido Socialista felicita “o esforço e capacidade de iniciativa do Bloco de Esquerda”, mas defende ser “pouco prudente seguir um caminho onde projetos de investimentos se misturam” e muitos deles “não foram, sequer, alvo de um debate e discussão mais alargado ao longo do país”.
Carlos Pereira alertou perante todas as bancadas que as matérias relativas à ferrovia devem implicar uma “profunda discussão ao longo do país, envolvendo a sociedade civil, sejam as autarquias, sejam as associações empresariais, sejam ainda os movimentos de cidadãos e de consumidores”.