Governar é preciso
Agora mostrou empenho em governar. Fê-lo de modo elegante, sem arroubos de retórica, traçando com clareza um caminho dentro da Europa, com vontade e rumo próprios. Elogiado por todos, até pelo infundamentado das críticas de opositores. Trouxe otimismo ao pulsar político de um povo habitualmente bisonho e invejoso, embora resiliente. Trouxe vontade de afirmar e agregar com outros uma visão europeia diferente da dominante. Foi claro ao tratar dos zelotes do antigo Leste Europeu, agora cristãos novos do capitalismo e do isolacionismo. Foi firme nos valores europeus e crítico da sua postergação. Foi institucional, mostrou espírito cooperante, quase omitiu críticas à Oposição. Não tanto por razões táticas como pela escassa notoriedade desta. Costa transformou a paliçada em fortaleza, não espanta que a Oposição se desnorteie e haja cada vez mais gente a dela descrer.
Tudo bem na tática. Porém, tempos de crise dupla real e prenunciada precisam de estratégias. Claro que temos um bom Programa Nacional de Reformas. Claro que temos propostas inovadoras em todas as áreas. Claro que o Simplex 2 irá ajudar a limpar as ervas e até o mato dos caminhos. Claro que temos gente nova e qualificada no Governo. Claro que estamos dispostos a demonstrar, a críticos maldosos, que não governamos um município mas um País. Mas também registamos bloqueios de decénios, nunca afastados, na justiça, na educação e formação, na escassez de espírito de risco, na acomodação fácil. E estamos a deixar sair alguns dos mais ativos e preparados. Dizem-me que um País do Norte da Europa nos leva anestesistas pagando dez vezes o que aqui lhes damos e mais uma viagem a Portugal cada dois fins-de-semana. Difícil competir em economias desiguais para o bem mais escasso, os recursos humanos. No tempo das Descobertas, “o Reino despovoava-se ao cheiro da canela”. Agora exaure-se pela nossa secular penúria que os concorrentes pretendem eternizar. Temos que olhar para as nossas capacidades de forma estratégica, para que a tática as não afogue. Tudo é hoje mais difícil que há cinco anos atrás. O grau de exigência da governação é muito maior que há dez anos, quando retomámos o poder. Cruzar os braços? Nunca? Proclamar arroubos líricos, belos, mas vazios? Foi bonito, mas não basta. Agora temos que governar.