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Ganhar mais para ter mais poder

Ganhar mais para ter mais poder

Decorreu no passado dia 30 de novembro, em Lisboa, a reunião europeia do PES Women, subordinada ao tema “From Gaining to Owning Power”, que contou com a participação de uma vasta delegação de mulheres socialistas europeias e portuguesas.
Ganhar mais para ter mais poder

A Presidente do DNMS, Elza Pais, anfitriã do evento, salientou os avanços em matéria de igualdade em Portugal, introduzidos sobretudo pelos governos socialistas, defendendo ser este um “compromisso” e um “desígnio” que importa aprofundar, congregando todos os partidos socialistas europeus.

“Os Partidos Socialistas dos diversos países europeus devem continuar a assumir o seu compromisso para manter a bandeira da Igualdade como uma marca identitária e uma conquista civilizacional para construirmos, em conjunto, uma sociedade de mulheres e homens livres de todo e qualquer tipo de violência e discriminação de género. A Igualdade é ainda um fator de coesão social e territorial, e é um motor essencial para a competitividade e para o desenvolvimento”, afirmou a líder das socialistas portuguesas, na sessão de abertura do evento.

Congratulando-se com o caminho já percorrido no nosso país em matéria de igualdade, de que são exemplo, só na presente legislatura, o travão ao retrocesso na lei da interrupção voluntária da gravidez, a adoção por casais do mesmo sexo, o acesso de todas as mulheres à PMA, a legislação para a representação de género na liderança das empresas, ou ainda as propostas para aprofundar a lei de identidade de género e para combater as desigualdades salariais, Elza Pais alertou, contudo, “haver ainda muito a fazer”.

A presidente das mulheres socialistas portuguesas enfatizou, neste ponto, ser “fundamental que as qualificações das mulheres deixem de ser desperdiçados nas lideranças políticas e económicas”, recordando que em Portugal 60% dos doutorados e licenciados são mulheres, assim como a importância decisiva de afirmar a plena igualdade salarial.

“É fundamental que o saber das mulheres se transforme em poder, e que as mulheres deixem de ganhar menos 16% quando desempenham trabalho de valor igual ao dos homens. Uma injustiça inadmissível e inaceitável no quadro da matriz socialista, pela qual orgulhosamente nos orientamos”, sustentou.

“Queremos hoje colocar os olhos no futuro, nas conquistas que ainda não fizemos, e nos compromissos que devem continuar a ser travados”, concretizou.

“Ter ou não ter poder, eis a questão”

A conferência anual do PES Woman foi encerrada com uma intervenção de Edite Estrela, presidente da Comissão Política do DNMS, que destacou, no rescaldo do encontro de Lisboa, o “debate profícuo para a causa da igualdade, para a afirmação do poder no feminino e para a definição de estratégias de promoção de uma sociedade paritária”.

A dirigente e deputada socialista dedicou um olhar retrospetivo sobre a evolução da situação das mulheres em Portugal nos últimos trinta anos, destacando o percurso gradual de reconhecimento e estatuto social e profissional, em áreas como a magistratura, a diplomacia ou o poder local.

“A integração das mulheres nos processos de decisão política e económica é uma exigência da modernidade e uma condição indispensável ao reforço da democracia e ao desenvolvimento económico”, afirmou, sublinhando que o Partido Socialista pode “orgulhar-se” de sempre ter estado “na linha da frente”, liderando “uma agenda progressista” em vários domínios.

Alertou, no entanto, que a “alteração das mentalidades” não acompanhou ainda esse “ímpeto reformista, apontando como desafios próximos que importa enfrentar, “o reforço do combate as desigualdades salariais e criar condições para uma efetiva conciliação da vida profissional com a vida familiar e pessoal, tanto para mulheres como para homens”.

“Mais de duas décadas depois, o figurino não se alterou muito. A mulher continua a tentar conciliar as responsabilidades da esfera privada com a participação na esfera pública. E a conciliação da vida familiar com a vida profissional é ainda um objetivo não atingido”, vincou Edite Estrela, chamando a atenção para a relevância social, económica e política desta questão, não só no que respeita às condições de acesso das mulheres ao exercício do poder, mas também na sua articulação com os desafios prementes da natalidade e da demografia.

“Não se pode dissociar a natalidade da política de rendimentos. Mudar as políticas, virar a página da austeridade, devolver rendimentos às famílias, reduzir o horário de trabalho na função pública para as 35h, alargar a rede de creches, garantir o acesso de todos à saúde e à educação, repor os apoios sociais, combater a precariedade e o desemprego, é o que o Governo do PS, apoiado pela maioria parlamentar de esquerda, está a fazer em Portugal”, apontou.

“O caminho é longo e difícil e tem de ser percorrido sem mais perdas de tempo. Para que a democracia se cumpra e para que o mundo seja mais equilibrado e justo”, concluiu.