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Freitas do Amaral: Soares pediu a adesão do país à CEE e o PSD primeiro teve dúvidas

Freitas do Amaral: Soares pediu a adesão do país à CEE e o PSD primeiro teve dúvidas

O primeiro líder do CDS, Freitas do Amaral, destacou a ação de Mário Soares para a normalidade das relações Estado/Igreja e contou que, em 1977, o PSD levantou dúvidas quando foi pedida a adesão à Comunidade Económica Europeia.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros recordou estes episódios na segunda sessão do ciclo intitulado “Celebrar Mário Soares”, dedicada ao período pós-25 de Abril de 1974 e que foi moderada pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes.

Um debate que teve também como figuras centrais os antigos candidatos presidenciais Carlos Brito (que foi dirigente e líder parlamentar do PCP) e do “histórico” socialista Manuel Alegre.

Esta segunda conferência, intitulada “Mário Soares, construtor da democracia”, registou ainda a presença na assistência do secretário-geral do PS, António Costa, do líder parlamentar socialista, Carlos César, e dos dois filhos do antigo chefe de Estado, João e Isabel Soares.

Na primeira intervenção da conferência, Freitas do Amaral referiu-se a “um dos momentos históricos” dos primeiros anos da democracia portuguesa, quando o então primeiro-ministro, Mário Soares, decidiu em 1977 pedir a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE).

“Nem todos concordaram, o próprio PSD manifestou dúvidas e andou uma semana a tentar encontrar uma forma de se demarcar. Mas, o CDS deu o seu imediato apoio”, contou Freitas do Amaral, já depois de ter arrancado uma salva de palmas dos militantes socialistas quando afirmou: “Democracia, Europa e justiça social são valores que só os encontro hoje no PS”.

“Por isso, recomendei o voto do PS nas últimas eleições legislativas”, disse.

Na intervenção, o fundador e primeiro líder do CDS rejeitou a ideia de que só tenha passado a ter boas relações pessoais com Mário Soares após ter sido derrotado por ele nas eleições presidenciais de 1986.

“As nossas boas relações começaram logo em 1974. Felicitou-me por ter fundado o CDS, dizendo-me que este partido seria essencial à democracia portuguesa”, contrapôs, elogiando, em seguida, “a intuição política” de Mário Soares ao criar o PS, na República Federal Alemã, um ano antes da Revolução de Abril.

Freitas do Amaral considerou mesmo que o antigo Presidente da República e fundador do PS foi essencial no papel de “legitimar internacionalmente” a revolução de Abril ao desempenhar o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório.

Ainda de acordo com Freitas do Amaral, Mário Soares foi igualmente determinante para a normalidade das relações entre a Igreja Católica e o novo regime político pós-25 de Abril, destacando neste ponto a opção de Mário Soares, em 1977, de ter estado presente no longo funeral do cardeal Cerejeira, “uma figura controversa” e muito associada ao Estado Novo.

“Mário Soares explicou-me a sua presença no funeral do cardeal Cerejeira, dizendo-me: Assim é que têm de ser as relações entre o Estado e a Igreja. Afonso Costa não fez isso e pagou a fatura. Comigo nunca será assim”, revelou Freitas do Amaral.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro da Aliança Democrática e depois do executivo de maioria absoluta PS de José Sócrates, elogiou ainda “a forma amável” como o primeiro líder dos socialistas recebia sempre em audiência os líderes da oposição.

Freitas do Amaral contou, a este propósito, que no dia após a sua derrota na segunda volta nas presidenciais de 1986 recebeu em casa, em Cascais, um “enorme” ramo de flores que lhe tinha sido mandado por Mário Soares e Maria de Jesus Barroso.

“O ramo de flores tinha um cartão a elogiar forma como eu me tinha batido nessas eleições presidenciais de 1986”, acrescentou o primeiro presidente do CDS.