Fase de retoma vai exigir instrumentos de apoio distintos e dirigidos

Em entrevista ao podcast do PS ‘Política com Palavra’, conduzida pelo jornalista Filipe Santos Costa, o titular da pasta da Economia disse ser expectável uma quebra acentuada da atividade económica neste segundo trimestre, referindo que abril terá sido o pior mês deste ciclo, sublinhando, contudo, que os mecanismos e as medidas criadas pelo Governo – como o ‘lay-off’ simplificado, as moratórias e as linhas de crédito – permitiram reduzir significativamente o impacto da quebra.

“Por termos sido dos países onde a capacidade produtiva ficou menos destruída, temos mais capacidade de responder aos mercados europeus que vão reabrir”, disse, salientando haver razões de confiança para que a recuperação da economia portuguesa arranque “o mais rapidamente possível” no segundo semestre, após uma fase de transição e de reabertura gradual e progressiva, de modo a não prejudicar a contenção da pandemia.

“Na fase de retoma, temos de ajudar a economia a recuperar o mais rapidamente possível, e isso vai-se verificar de duas maneiras: por um lado, apoiar as empresas que têm mais potencial de crescimento nesta fase, mais capacidade de criar emprego e de chegar rapidamente ao mercado”, apontou, enumerando, neste contexto, os setores da indústria, agroalimentar, da saúde ou da construção.

“Em setores como o do turismo ou o setor automóvel, provavelmente a retoma vai ser mais lenta e os apoios vão ter de ser mais dirigidos. Isso pode implicar apoios diretos às empresas e mecanismos de capitalização das empresas, que vão ter de ser dirigidos e com critérios de seleção mais ordenados”, completou.

Relativamente ao setor do turismo, em particular, Siza Vieira reconheceu que irá “levar tempo a recuperar”, sendo objetivo do Governo tudo fazer para “preservar valor”, adequando os apoios ao processo de retoma da atividade turística.

O governante deixou, contudo, uma nota de otimismo: “Neste momento estou um pouco mais otimista do que há três ou quatro semanas. Há uma enorme apetência dos mercados europeus pelo destino Portugal já para este ano. Estou convencido de que a médio prazo Portugal vai ser um destino turístico ainda mais valorizado do que foi nos últimos anos”, afirmou.

Linhas de crédito

Na entrevista, o ministro salientou também que as linhas de crédito abertas pelo Governo estão a fazer o seu caminho, apontando que “já estão aprovadas garantias correspondentes a 47%” do valor global dos cerca de 6,2 mil milhões de euros disponibilizados mais recentemente, e que, apesar da complexidade do processo, “nos próximos dias” será possível “ver dinheiro a chegar às empresas”.

“Apesar do esforço de simplicação que já fizemos, isto demora algum tempo”, explicou.

Siza Vieira considerou também que a banca portuguesa, de um modo geral, tem “estado à altura” da exigência e complexidade do desafio, assinalando que os bancos estão a disponibilizar um volume de crédito muito superior ao habitual e com concessão de moratórias.

“Os bancos têm-se comportado de forma bastante diferente daquela que há 10 anos se comportaram”, apontou, salientando que, para tal, foi determinante o esforço de capitalização desenvolvido nos últimos anos.

Banco de fomento vai ser essencial para a retoma

Pedro Siza Vieira destacou ainda a importância de que o projeto do banco de fomento “vá para a frente muito rapidamente”, considerando que o seu papel seria essencial para a fase de retoma da economia.

“Estamos neste preciso momento a retomar os contactos com a Comissão Europeia para relançar este processo, julgo que nas próximas semanas teremos novidades a esse respeito”, adiantou.