Etelvina Lopes de Almeida II
Com a presença de Mário Soares e António Almeida Santos, assim como do historiador e investigador João Gomes Esteves, outro dos oradores intervenientes, a sessão, inserida no ciclo ‘Vidas com Sentido’ que a FMS tem vindo a promover, homenageou uma “mulher singular” e “uma combatente das causas da democracia e da igualdade, tendo participado ativamente na luta cívica ao lado de Maria Lamas e em várias organizações de mulheres”, salientando-se a sua adesão, em 1947, ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.
Etelvina Lopes de Almeida iniciou a sua atividade política no tempo da ditadura, participando nas campanhas de Norton de Matos e de Humberto Delgado, e integrando, em 1969, a lista de candidatos a deputados pela CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática).
Depois da Revolução, aderiu ao PS, sendo deputada à Assembleia Constituinte (1975-76) e à Assembleia da República (em 1976 e 1978) pelo círculo eleitoral de Évora, altura em que partilhou a bancada parlamentar com Maria de Jesus Barroso.
Evocando este período, Edite Estrela partilhou uma curiosa leitura dos diários das sessões da Assembleia Constituinte, destacando uma intervenção em plenário, onde, a propósito de um comunicado da Juventude Social-Democrática da Madeira, Etelvina Lopes de Almeida, “antifascista desde os 16 anos”, afirma que sendo “socialista, não é anticomunista, como os melhores comunistas nunca serão antissocialistas”. Uma afirmação que, como salientou Edite Estrela, ganha uma pertinência e uma clarividência muito interessantes, tendo em conta o contexto político que o país hoje vive.
Escolhida, em 1993, para presidir em Estrasburgo a uma sessão do Parlamento Europeu para os idosos, durante a qual foi aprovada a Carta Europeia para os Idosos, Etelvina Lopes de Almeida viria a ser agraciada, dois anos mais tarde, com a Comenda da Ordem de Mérito, atribuída pelo então Presidente da República, Mário Soares.
No princípio do século XX, poucas mulheres conseguiam escapar ao determinismo da época e da família e desenhar o seu próprio caminho. Etelvina foi uma dessas raras mulheres.
“Como afirma o pessoano heterónimo, entre «uma e outra coisa» todos os dias foram dela. Poucas pessoas poderão como ela afirmar, quase no fim da vida, «não lamento nada do que me aconteceu»”, evocou Edite Estrela.