Entre o 25 de abril e Bordéus
De uma maneira geral, os portugueses são muito dinâmicos e a sua ligação afetiva ao país é fortíssima. Estão sempre a realizar eventos e a criar iniciativas que são uma forma de reencontro da nossa comunidade, de lembrar que não podem ser esquecidos em Portugal pelos poderes instituídos, pelo Governo, pela Assembleia da República, pelas câmaras municipais.
De entre os diversos convites que tive para celebrar o 25 de Abril e o 1 de Maio em vários países europeus, escolhi dois que considerei serem os que tinham um maior significado político, simbólico, humano e mesmo diplomático.
No 25 de Abril optei por aceitar o convite para estar presente numa homenagem ao Capitão Salgueiro Maia, essa figura maior da nossa Revolução. Ainda para mais com a presença da sua filha Catarina, que teve de emigrar no início deste ano pela segunda vez para o Grão-Ducado. Não pode haver melhor homenagem aos ideais de Abril e ao futuro que a todos se abriu do que evocar Salgueiro Maia, que foi determinante para o sucesso da Revolução. Muito provavelmente, se não fosse a sua lucidez, coragem, determinação e convicção inabalável de que era preciso derrubar o regime não teria havido 25 de Abril, ou pelo menos não se teria realizado de forma tão pacífica.
Mas da minha passagem pelo Luxemburgo tive ainda a oportunidade de participar no Congresso da Confederação das Comunidades Portuguesas no Luxemburgo-CCPL, uma associação importantíssima para os portugueses residentes no Grão-Ducado em virtude da sua ação no domínio da integração. A sua relevância é tanta que contou também com a presença da ministra da Família e Integração do Luxemburgo, deputados luxemburgueses e portugueses, representantes dos sindicatos e do Estado português. Na minha intervenção, apelei ao reconhecimento da importância da CCPL por parte da nossa comunidade e das autoridades luxemburguesas e portuguesas e aproveitei também para alertar para a necessidade da nossa comunidade ter uma maior participação cívica e política, como forma de defender os seus interesses e a nossa imagem coletiva.
Passei o 25 de Abril no Luxemburgo, mas também o poderia ter passado em França. Com efeito, o dia da Revolução é celebrado um pouco por toda a França, essencialmente devido aos mais de três mil eleitos portugueses ou de origem portuguesa que existem de norte a sul, de este a oeste e que representam uma força gigantesca na relação entre os dois países. Infelizmente, este imenso potencial não é ainda bem conhecido nem aproveitado. Mas a nível local as coisas são diferentes. Aqui os conselheiros municipais procuram sempre dinamizar as relações entre a mairie por onde são eleitos e o seu conselho de origem. E há milhares de geminações e intercâmbios por via dessa ligação e a realização de eventos que reforçam os laços com os municípios portugueses e, portanto, também com Portugal e dão mesmo um importante contributo para a dinamização do turismo e de outras atividades económicas.
Daí que, para passar o 1º de Maio, tenha optado por participar na VI Feira de Produtos Regionais, Arte e Gastronomia de Cenon, perto de Bordéus. Um evento que já se tornou ponto de passagem obrigatória para milhares de portugueses que vivem na região da Gironde. Esta feira tem a particularidade de acolher representações cerca de vinte municípios do norte de Portugal, como Paredes de Coura, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Lamego, Monção, Bragança e tantos outros. E lá estavam muitos presidentes de câmara portugueses para contactar com as gentes da sua terra. E lá estava o maire de Cenon, por sinal do Partido Socialista e a sua adjoint au maire portuguesa, a Fernanda Alves, originária dos Arcos e que tem dinamizado esta feira, juntamente com a Associação Alegria Portuguesa da Gironde. Há sempre ambiente de festa, mas também uma parte oficial em que se transmitem mensagens para a nossa comunidade, que é diversificada, trabalhadora e muito bem considerada. As nossas comunidades são, de facto, uma grande força para Portugal, onde quer que estejam.
Paulo Pisco
Deputado do PS eleito pelas Comunidades