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Em debate: O papel da leitura e da literacia perante os desafios da era digital

Em debate: O papel da leitura e da literacia perante os desafios da era digital

Os hábitos de leitura dos portugueses e o seu estímulo nas gerações mais jovens, a relação do livro e da leitura com os meios digitais e tecnológicos, e a educação para uma literacia do conhecimento, foram alguns dos temas que dinamizaram uma conversa entre Edite Estrela, a escritora Lídia Jorge e o professor e poeta António Carlos Cortez, sobre ‘A leitura hoje: para além do feitiço dos ecrãs’, inserida na iniciativa do PS ‘Diálogo Entre Gerações’.

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Citando um artigo que identifica uma diminuição do quociente de inteligência da população mundial nos últimos 20 anos, relacionada com o empobrecimento da linguagem, Edite Estrela deu o mote para o debate em torno dos índices da literacia literária e uma reflexão sobre o seu impacto no conhecimento, sobretudo nas gerações mais jovens, num contexto em que o digital ganha proeminência e em que Portugal foi o país, de entre alguns dos mais importantes a nível europeu, onde se observou a maior queda de vendas de livros (cerca de 18%) no ano de 2020.

“Qual o preço que iremos pagar pela falta de leitura?”, interrogou.

Um desafio a que Lídia Jorge correspondeu, salientando que os meios digitais e tecnológicos contêm “uma capacidade enorme de conhecimento”, porém, como acrescentou, concorrendo igualmente para “uma alteração completa de hábitos”, nomeadamente de leitura.

Na ótica da autora, estamos em presença de uma “espécie de cisão” dos mais jovens, “entre as crianças capazes de associar a cultura do papel com a cultura digital”, por um lado, e “um empobrecimento do pensamento e uma aversão ao complexo”, por outro.

“A interrogação que importa colocar é o que irá vencer no futuro próximo”, apontando que, sobretudo “neste momento de transição digital”, esta dimensão deverá ser “amparada por todos os outros saberes”, em que “a leitura pode ser chamada como um elemento fundamental”.

“Estamos perante um momento em que tudo é recuperável”, sublinhou.

O poeta António Carlos Cortez acompanhou a ideia de que “não se trata de vermos uma geração menos inteligente”, salientando que o “convívio com o digital” e a “literacia digital” pode proporcionar ferramentas para “potenciar a descoberta”, chamando, contudo, a atenção para que, ao longo dos últimos 25 anos, “houve uma aposta muito forte nas ciências ditas exatas” e “secundarizou-se em demasia o ensino das humanidades”.

De acordo com António Carlos Cortez, falando também na sua experiência enquanto professor, este desinvestimento nas humanidades tem tido consequências: “os alunos leem pouco e têm dificuldades ao nível do entendimento do enunciado complexo”, revelando “pouco vocabulário e poucas referências histórico-culturais”.

“Há um longo trabalho de cidadania a fazer e a literatura deve voltar a ter um lugar axial nos programas de ensino”, disse, advogando que “a importância do livro e da literatura” deve estar presente, também, no discurso político e que é “fundamental”, no período pós-Covid, fazer “uma aposta muito séria na formação de professores”.

“Uma didática da literatura”, explicou António Carlos Cortez, aludindo a uma ideia que tem sido defendida pelo secretário de Estado da Educação, João Costa. “Uma didática de motivar e seduzir para a literatura”, reforçou.

A sessão, muito participada e bem recebida pelos cibernautas, terminou com a leitura de um curto texto de Lídia Jorge sobre a leitura:

“Um dia encontrarás um livro teu irmão, aquele que falará à tua inteligência como se fosse feito da própria matéria da tua alma. Quando o descobrires, verás que a tua vida mais pura é feita de páginas escritas, e o teu pensamento começará a aproximar-se, cada vez mais, do mundo do conhecimento sensível. Aí descobrirás como, lendo título após título, te podes familiarizar com o universo estelar de uma biblioteca, e nenhum écran conseguirá alcançar a dimensão da tua alma alimentará pela leitura

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