E, NO ENTANTO, ELAS MOVEM-SE!
Os media constroem identidades, conferem sentidos e têm o poder de influenciar a opinião pública. Por isso é tão importante o modo como representam as pessoas e os acontecimentos. A comunicação social pode ajudar a combater (ou promover) estereótipos e desigualdades. Pode dar eco a ideias e causas, mas também pode destruir pessoas e distorcer argumentos. Pode contribuir para o empoderamento das mulheres, dando-lhes visibilidade e valorizando o seu saber, o seu trabalho, a sua essência, mas pode dar uma imagem fragmentada e distorcida, reduzindo-as à sua função reprodutiva e a meras figuras decorativas do protagonismo masculino.
Um estudo, realizado em 2009 pelo Parlamento Europeu, concluiu que as mulheres foram praticamente ignoradas pela comunicação nacional durante a campanha eleitoral. E que as referências às candidatas não decorriam da importância das suas ideias e programas políticos, mas por razões tão fúteis como a cor do cabelo, o vestuário, a aparência ou por serem familiares de alguém (leia-se, um homem) conhecido.
Depois de eleitas para os mais altos cargos, a discriminação continua. Quem se atreveria a perguntar a um recém-eleito presidente como vai conciliar as exigentes responsabilidades públicas com as suas obrigações familiares? Pergunta dirigida com toda a naturalidade a Michelle Bachelet, quando foi eleita Presidente do Chile.
A participação política das mulheres é essencial numa democracia para que homens e mulheres detenham os mesmos direitos e o mesmo poder político, económico e social. O decantado desinteresse das mulheres pela vida política é uma construção dos que visam perpetuar a hegemonia masculina e alimentar o terreno em que o machismo se manifesta e reproduz.
As mentalidades vão mudando muito lentamente. E, no entanto, também elas, as mulheres, se movem, com a mesma certeza de Galileu. Apesar de o verdadeiro continuar a ser um monopólio masculino, o velho estereótipo da “guerra dos sexos” vai dando lugar a uma aliança construtiva, proporcionando mais visibilidade e ressonância às novas feminilidades e masculinidades. Foram precisos muitos anos para retirar parte da carga negativa da palavra feminismo.
Colocar a mulher no centro do debate e dar voz às “nossas mulheres” – governantes, deputadas, autarcas, dirigentes socialistas – é o objetivo primeiro desta edição de 8 de março do Ação Socialista Digital. As mulheres vão saindo da base da pirâmide social, mas para passarem de objeto a sujeito têm de disputar o espaço público e o reconhecimento dos seus direitos e do seu trabalho e fazerem diariamente prova de mérito.
Espero que, quando os meus netos chegarem à idade adulta, já não se justifique o dia internacional da mulher.