“Cumpri as minhas obrigações como presidente da Assembleia da República”, afirmou ontem, Augusto Santos Silva, durante a entrevista que concedeu à SIC-Notícias, no espaço informativo ‘Edição da Noite’, ocasião em que assumiu como “derrota pessoal e política” o revés eleitoral sofrido enquanto cabeça de lista do PS pelo círculo Fora da Europa.
Na ocasião, Santos Silva rejeitou ler a sua não eleição como “fracasso” ou “desonra”, lembrando que “em democracia ganha-se e perde-se”.
“Desde que sou membro do PS perdi em [19]91, perdi em 2002, perdi em 2011, perco agora, ganhei em [19]95, em [19]99, em 2005, 2009, 2019 e em 2022. Portanto, faz parte do jogo democrático”, enfatizou o presidente cessante do Parlamento, lembrando que se candidatou num círculo “particularmente difícil para o Partido Socialista”, que tinha conseguido eleger pela primeira vez em 2019 – ele próprio, que dois anos depois foi reeleito.
“Sentir-me-ia mal, depois de me ter candidatado pelo círculo de Fora da Europa, agora que era previsível que o PS baixasse a votação, se me tivesse acantonado num dos lugares inteiramente elegível”, expôs Santos Silva, clarificando a sua opção pelo círculo que o elegeu nas duas eleições anteriores.
Neste ponto, afirmou ainda ter sido para si um ponto de honra que, “num momento de maior dificuldade”, se candidatasse no mesmo círculo que o elegeu e que permitiu que, pela primeira vez, um deputado da diáspora fosse também presidente da Assembleia da República.
Indicando que, “enquanto a saúde o permitir”, irá manter a sua “atividade e participação intensa” na vida política do país, Augusto Santos Silva revelou igualmente que retomará funções na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, onde é professor catedrático, logo que comece a nova Legislatura.
A propósito da posição assumida pelo novo Secretário-Geral do PS, ao apresentar condições para viabilizar um orçamento retificativo do Governo da AD, Santos Silva considerou que Pedro Nuno Santos “fez muito bem”.
“Não podemos deixar a oposição entregue às forças extremistas, mas [a oposição] tem de ser feita com muita atenção e prudência”, advertiu, apontando que “a força política que ganhou averbou o seu pior resultado de sempre” e o PS o seu terceiro pior, pelo que considerou que “ambos saem enfraquecidos destas eleições”.
Abril conta com 180 deputados de partidos democráticos
No ano em que o 25 de Abril faz 50 anos, Santos Silva disse preferir concentrar-se na maioria de 180 deputados que provêm de partidos democráticos do que tecer comentários sobre os resultados alcançados pela extrema-direita na última contenda eleitoral.
Sem alimentar polémicas, o ainda número dois da hierarquia do Estado sustentou ter exercido as suas funções na chefia do Parlamento assumindo “a mesma conduta” com todos os deputados e bancadas parlamentares, no intuito de “fazer valer os seus direitos” e “advertir quando o seu discurso se torna ofensivo ou injurioso”.
“Nunca cortei a palavra seja a quem for”, vincou, recordando que apenas na altura em que uma bancada tentou “insultar um chefe de Estado de um país amigo”, foi forçado a intervir.
“Um presidente que não interrompesse e não fizesse valer a dignidade e a ordem democrática, não teria condições para presidir à Assembleia da República”, frisou, desmentindo categoricamente “outra mentira”, a propósito de uma suposta interferência sua para impedir que deputados de uma bancada parlamentar especifica participassem em visitas institucionais ao estrangeiro.
“Apenas nas minhas viagens pessoais não convidei deputados com posturas ofensivas ao sistema democrático”, atirou.
Santos Silva admitiu que “nunca repetimos as coisas todas iguais”, mas, ressalvou: “se eu assistisse impávido e sereno a violações grosseiras das mais elementares regras de respeito recíproco, eu teria vergonha de mim próprio”.
Rejeitando centrar-se em assim chamadas “desforras eleitorais”, o ainda presidente da Assembleia da República sublinhou que a sua relação foi “com os eleitores”, pelo que “terá de respeitar a decisão”.
“Dirigi-me às comunidades e apelei para que votassem e depois pedi que votassem no meu partido. Os eleitores das comunidades escolheram quatro deputados e exprimiram-se e só tenho de agradecer quem votou e respeitar a decisão”, reiterou.
Augusto Santos Silva tem um extenso percurso ao serviço à causa pública pelo Partido Socialista no exercício de mandatos de deputado e nas funções de secretário de Estado da Administração Educativa, ministro da Educação, da Cultura, dos Assuntos Paramentares, da Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros.
