«Democratizar é uma tarefa continuamente incompleta»
Carlos César, que intervinha na sessão solene comemorativa do 45º aniversário do 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República, defendeu que “democratizar é uma tarefa continuamente incompleta, inevitavelmente centrada na promoção da igualdade de oportunidades, mas indiscutivelmente associada à revitalização dos mecanismos de representação e de participação social e, mais ainda, ao reforço da transparência e do escrutínio dos interesses dos decisores ao mais variado nível dos poderes intervenientes”.
O presidente do Partido Socialista disse que não se pode desvalorizar as ameaças. “Quando olhamos, porém, as incertezas e disfunções do nosso tempo e nos confrontámos com aliciamentos e receituários que se fazem atrativos, que trocam os medos pela intolerância, pela mentira e pelo apoucamento dos políticos e das instituições democráticas – com o propósito inconfessado não de as reformar, mas de as suprimir -, será um erro desvalorizarmos esses perigos para as democracias”, sublinhou.
Perigos das correntes populistas
Além do combate às correntes populistas e extremistas, o líder parlamentar socialista considerou também urgente uma atenção especial “às novas dimensões do desenvolvimento económico e social, que o futuro agendou e com que grande parte dos nascidos a partir da passada década de oitenta vivem e se confrontam”.
“As novas gerações, moldadas nas sociedades conectadas e no mercado digital, confrontadas com a sobre-exploração e esgotamento dos recursos naturais, com as disparidades demográficas e as dificuldades dos sistemas de saúde e segurança social, com a desregulação e o terrorismo, e com alterações imensas nas funções profissionais e nas relações de trabalho, têm, assim, outras ansiedades e procuram outras soluções”, apontou Carlos César, que recuou à sua juventude para lembrar como recebeu a notícia da revolução.
“Naquele dia incerto e espantado, na maior cidade das minhas ilhas – onde estavam Melo Antunes e Vasco Lourenço e onde se liam os jornais do dia vários dias depois -, senti, com o alvoroço dos meus 17 anos, que chegara o momento que amigos e familiares tantas vezes me afiançaram – o momento em que passaríamos a aprender a viver, uns e outros, usando a liberdade”, recuou. “O momento em que nos passariam a ver e não a espiar, em que nos passariam a tomar como uma parte ativa e não como um todo inerte. O momento em que os que temiam falar e serem escutados, fariam, enfim, chegar livremente a sua voz ao seu destino”, declarou.
“Foi a devolução da maioridade cívica”
“Foi como se, aos portugueses e às portuguesas, tivesse sido atribuída, ou devolvida, a maioridade cívica”, definiu, deixando um recado aos saudosistas desses tempos obscuros. “Só quem não imagina como falecemos em ditadura é que poderá pensar que é pior viver, não ganhando sempre, em democracia”.
Carlos César declarou ainda que o dia é de comunhão e deixou um apelo ao pluralismo político. “O espírito do 25 de abril é o de sermos valorizados e respeitados por pensarmos e por agirmos todos de forma diferente. Por isso, para nós, para o partido de Mário Soares, evocar hoje o 25 de abril não é necessariamente depreciar a direita política ou obrigatoriamente exaltar a esquerda. É respeitarmo-nos na nossa diversidade”.