Numa entrevista que concedeu, sábado passado, ao jornal Público e à Rádio Renascença no seguimento do anúncio que fez ao país de que iria propor à Comissão Política Nacional a abstenção do PS na votação na generalidade e final global do OE2025, o Secretário-Geral garantiu que as iniciativas parlamentares socialistas, no que a esta matéria diz respeito, serão dadas a conhecer a seu tempo.
“Nós vamos fazer a nossa avaliação. Concluiremos, muito provavelmente, que há espaço para apresentarmos algumas propostas. No momento certo serão comunicadas, mas não vamos entrar em mais nenhum processo negocial”, afiançou Pedro Nuno Santos, indicando que o PS irá até onde for possível ir sem colocar em causa o saldo orçamental, opondo-se nas matérias com as quais discorda, como os benefícios fiscais de seguros de saúde e a privatização da TAP, entre outras.
O líder socialista referiu ainda a importância de se conseguir fazer um trabalho conjunto com o Governo em áreas vitais da soberania, defesa, política interna, segurança interna e justiça, recordando igualmente que, na economia e questões sociais, “a distância entre o PS e o PSD é enorme”.
Instado a comentar a expressão que usou na última quinta-feira, quando disse que o PS partia para a especialidade “com toda a liberdade”, o líder socialista clarificou que isso significa que o partido não está “obrigado a votar tudo o que o Governo ou o PSD apresentam, nem obrigado a chumbar tudo aquilo que os outros partidos apresentam, ou obrigado a não apresentar propostas”.
Refutando que o anúncio do sentido de voto socialista para a votação final global possa vir a condicionar essa liberdade, assegurou: “Estamos livres. Vamos avaliar as propostas”.
Quanto ao momento do anúncio, o Secretário-Geral do PS explicou não ser bom para Portugal continuar “mais um mês em suspenso” e que para o PS “era claro” que o voto para a generalidade seria o mesmo para a votação final, “com a ressalva de que não haja grandes transformações face à proposta do Governo, nomeadamente de potenciais alianças à direita para aprovar algumas coisas”.
Além disso, salientou que se o PS tinha querido levar a proposta orçamental à mesa das negociações para que o processo provocasse consequências também do lado do Governo, por via das cedências alcançadas.
“Se tivéssemos anunciado há mais meses que íamos viabilizar, não tínhamos dado uma oportunidade à negociação”, observou, frisando que os socialistas fizeram uma avaliação aprofundada da proposta de OE2025 para chegar a uma “decisão que era complexa” e para a qual “não havia saídas óbvias”.
Afastada por ora uma nova crise política em Portugal, Pedro Nuno Santos fez notar que a sua decisão não poderia ter sido anunciada mais cedo, uma vez que havia uma negociação em curso.
“Para mim, era sempre claro que o PS não podia passar cheques em branco. E, portanto, não pode, pelo menos com a minha liderança, viabilizar um orçamento sem que haja recuo por parte do Governo em matérias importantes”, vincou depois, assinalando que foi sua vontade anunciar a sua proposta de sentido de voto antes da Comissão Política Nacional de hoje e, “por respeito para com o PSD”, que esteve reunido em congresso ontem, achou errado fazê-lo neste fim de semana.
Já sobre a possibilidade de o PS ser penalizado nas urnas caso o OE 2025 fosse rejeitado e fossem marcadas novas eleições legislativas, o líder socialista disse não estar certo de que isso pudesse acontecer, dando conta de que a “última sondagem dava o PS à frente”.
Em jeito de remate sobre o sentido de oportunidade do seu anúncio ao país, Pedro Nuno Santos foi perentório: “O timing é definido pelo PS e por mais ninguém. E para nós, este era o momento certo”.
Já quando confrontado com a hipótese de uma derrota nas urnas, Pedro Nuno Santos garantiu que “O Partido Socialista não tem medo de eleições”.
E neste ponto, disse esperar que não haja alianças à direita que ponham em causa a ação responsável e com sentido de Estado dos socialistas.
Estados Gerais do PS
Ainda no plano interno, o Secretário-Geral adiantou que no próximo ano o PS fará uma renovação, tendo como objetivo atrair novos quadros e “encontrar novas respostas e mobilizar o povo português”.
Sobre os Estados Gerais do PS, Pedro Nuno Santos disse esperar lançá-los já no início de 2025.
“Queremos obviamente integrar, ouvir, envolver, para termos pensamento e programa novo, respeitando o quadro de princípios e de valores do PS, mas com respostas novas para desafios novos. E respostas novas para alguns desafios antigos que ainda não foram vencidos”, sustentou, insistindo em que, no horizonte das eleições autárquicas que se avizinham, os socialistas irão apresentar candidatos fortes que consolidem a presença do partido no poder local.