Costa defende que só uma Europa unida pode responder aos medos dos cidadãos
A defesa de uma integração europeia com base nos valores da democracia, da tolerância, do modelo social europeu e do comércio livre regulado foi o ponto essencial do discurso de cerca de 30 minutos de António Costa no encerramento do Congresso do Partido Socialista Europeu (PSE), em Lisboa.
“Sabemos que há razões para os cidadãos terem medo relativamente àquilo que os cerca e que se lhes apresenta no futuro, mas a resposta ao medo não é fechamos as fronteiras, expulsarmos os estrangeiros, desconfiar do outro e sair da União Europeia. A resposta ao medo é termos uma União Europeia social-democrata, com os nossos valores, porque respondem às necessidades dos nossos cidadãos”, contrapôs.
Na sua intervenção, o primeiro-ministro português assumiu que as próximas eleições europeias “serão provavelmente as mais exigentes de sempre para os socialistas”.
“Temos de recordar os valores dos nossos pais fundadores, aqueles que reergueram uma Europa antes destruída pela guerra e sonharam a União Europeia como um passo essencial para a paz”, disse.
A linha de discurso dos socialistas europeu, na perspetiva de António Costa, passa por colocar em confronto as respostas que dão as correntes nacionalistas e neoliberais, de um lado, e as que devem ser transmitidas por aqueles que querem uma Europa unida.
“Estaremos mais seguros contra o terrorismo e contra a instabilidades nas fronteiras externas se estivermos cada um por si ou se estivermos unidos?”, questionou, antes de se referir às crescentes desigualdades sociais e às angústias face à manutenção dos empregos.
“Não temos de ter medo de dizer o seguinte: O sistema fiscal é e continua a ser um instrumento fundamental para a redistribuição da riqueza e para financiar um Estado social com boas escolas, bons hospitais e bom apoio social. Nesta globalização, não podemos ter a ilusão de que cada um dos nossos países pode por si ser eficaz para eliminar os paraísos fiscais, para tributar as grandes empresas multinacionais [que conseguem sempre encontrar uma ilha para conseguirem pagar menos impostos] ou para tributar a nova economia que ocorre no espaço digital”, advertiu o primeiro-ministro.
Para António Costa, a tributação só pode ser eficaz “se for feita em conjunto por todos os Estados-membros, de forma a financiar um Estado social moderno”.
Além da demarcação face a correntes nacionalistas e protecionistas, o secretário-geral do PS distanciou-se também da linha de centro-direita “de pensamento único” que disse assentar numa “ortodoxia financeira”.
“Nesta Europa unida, temos obviamente regras comuns, mas temos também cada um dos nossos povos a soberania democrática de poder escolher as alternativas de Governo e de poder fazer as mudanças políticas que entende. Podemos ter objetivos comuns, mas todos temos o direito de seguir caminhos diferentes para alcançarmos esses objetivos”, acentuou, recebendo palmas da plateia.
Neste ponto, o secretário-geral do PS disse entender a União Europeia “como uma família, em que obviamente há regras para se viver em conjunto”.
“Mas não é o facto de termos regras comuns que pode eliminar a identidade de cada um. Eu e a minha mulher somos cada um o seu próprio ser, a minha filha e o meu filho é cada um o seu próprio ser. Cada um é si próprio, o que não quer dizer que não possamos viver em conjunto”, declarou a título de exemplo.
Ainda em defesa de uma ideia de integração europeia, mas com respeito pela identidade de cada Estado-membro, o primeiro-ministro português concluiu: “Nenhum dos grandes desafios, nenhum dos grandes fatores de medo, de angústia e de ansiedade que minam a confiança dos cidadãos pode ser melhor resolvida sem a União Europeia ou fora da União Europeia por maior ou mais rico que seja algum dos países”.
“Juntos faremos sempre melhor do que cada um por si”, acrescentou.