home

“Conversas em tempo de crise: a visão de uma sindicalista”

“Conversas em tempo de crise: a visão de uma sindicalista”

UMA SUGESTÃO DE MARGARIDA MARQUES
"Conversas em tempo de crise: a visão de uma sindicalista"

“Conversas em tempo de crise: a visão de uma sindicalista”, o seu primeiro volume, foi apresentado em 8 de Março, último. Wanda Guimarães, que há algum tempo preparava este livro em coautoria com Vera Santana, não escolheu aquela data por acaso. Quis assim celebrar o Dia Internacional da Mulher.

É um livro sobre o percurso sindical de Wanda Guimarães – “o olhar de uma sindicalista sobre diversos acontecimentos, muitos dos quais tinha tido a sorte de viver” – segundo a própria, que acrescenta querer também, com este livro, “festejar os 40 anos do 25 de Abril e a nossa difícil aprendizagem da democracia”.

Beneficia de depoimentos. De Béatrice Hertogs, secretária confederal da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) de 1991 a 2003, que relata o trabalho de WG na CES e sobretudo na Comissão de Mulheres. Lembra uma conferência organizada em Lisboa, em Fevereiro de 1987, em que WG era a grande responsável pela sua organização. O objetivo daquela conferência era “compreender em que medida a União Económica e Monetária, a UEM, faz avançar, ou inversamente, atrasar, a dinâmica da igualdade entre homens e mulheres instituída pelo Tratado (da UE) e a partir dessa compreensão, elaborar propostas sobre o assunto” e, assim, permitir à CES propor medidas capazes de a reforçar. Sublinha Béatrice Hertogs que hoje “constatamos dolorosamente que este tema é de uma enorme actualidade”. E lembra a festa, um momento de convivialidade e solidariedade, que WG associou à conferência. De Bétarice Ouin, conselheira do Comité Económico e Social Europeu, representando a CFDT (Conféderation française démocratique du Travail). Uma e outra lembram o trabalho de WG na defesa da igualdade de género, no âmbito sindical europeu.

A segunda parte, “Os 40 anos de democracia: a utilidade da UGT e dos seus sindicatos na construção de uma sociedade digna”, integra um vasto conjunto de entrevistas e testemunhos, de que destaco os de Bernardette Ségol, secretária Geral da CES e Jorge Sampaio. Bernardette Ségol questiona-se se “o sindicalismo é ainda legítimo no século XXI; se ainda tem algo a dizer aos trabalhadores, aos empregadores, aos legisladores”. E conclui que sim, “se acreditarmos na ideia de progresso social e de solidariedade”. Mas lembra que isso “implica, do lado sindical, a constante colocação em causa das estratégias e das práticas”, reforçando a ideia de que “o sindicalismo do século XXI tem que se repensar permanentemente; a sua ação tem de ser irrepreensível e constantemente focada no progresso social do conjunto dos trabalhadores”. Sobre os desafios com que se confronta hoje, Jorge Sampaio lembra que o sindicalismo tem de encontrar as respostas que lhe permitam continuar a preencher o essencial da sua missão que é a “defesa e proteção dos interesses dos trabalhadores, numa difícil combinação entre competitividade com trabalho digno e qualificado”.

Outros depoimentos ( Deolinda Machado, Pedro Norton e sindicalistas como Elisa Damião, João Proença, Barbosa de Oliveira, Rui Riso, entre outros), entrevistas e testemunhos (Helena André, Silva Peneda, Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros) de pessoas que conviveram e convivem diretamente com WG evidenciam os valores fundamentais que nortearam e norteiam a sua conduta, como destaca e explica a coautora Vera Santana: “a solidariedade, a liberdade, a autonomia, a dignidade e a igualdade”.

Aguardemos o Volume II deste trabalho que é também uma contribuição para a história do movimento sindical.