Construir convergências
Estamos no governo com o apoio parlamentar dos partidos à nossa esquerda. Temos perfeita noção que é mais benéfico e mais fecundo para o País o Partido Socialista ser governo. Não vale a pena negar esta evidência.
Contudo, esta realidade exige, a cada momento e a cada um de nós, uma atenção redobrada e uma postura cuidadosa. Uma negociação permanente, uma sistemática capacidade de abertura e diálogo e, acima de tudo, muita criatividade e humildade democrática.
Se me perguntarem se esta forma de exercício de poder político colhe a minha simpatia, responderei que, indubitavelmente, sim. Reconheço as dificuldades que lhe estão associadas, mas o exercício político democrático tem de ser isto. Tem de ser a permanente aproximação à diversidade de opinião e de políticas, sem perder o nosso ideário e um modelo de sociedade que coloca o cidadão no centro das políticas públicas.
Sem atropelos, claro está, à matriz identitária do Partido Socialista.
O Partido Socialista é, na sua génese, um partido de diálogo, um partido de concertação. O PS é um partido que escuta, é um partido que discute. O PS somos todos nós. Somos assim!
E, porque somos assim, não podemos sequer ousar pensar que detemos a exclusividade da razão. A razão política e democrática tem de ser construída a cada passo.
E a primeira prova, o primeiro teste que teremos pela frente será já, daqui a poucos meses, nas próximas eleições autárquicas.
Temos tudo para sermos ganhadores porque soubemos cumprir os compromissos autárquicos que desenhámos em 2013 e honrámos a palavra dada.
Hoje, em 2017, continuamos a ter projetos autárquicos de elevada dimensão política e de inquestionável grandeza social, liderados por mulheres e homens que comungam os mais elevados desígnios socialistas.
Hoje, os objetivos estão definidos e as metas estão projetadas. Sabemos o percurso a fazer e como vamos gerir todo o processo autárquico, dando primazia aos mais elevados valores sociais, democráticos e humanistas.
Estas são, seguramente, algumas das muitas questões que já fizemos e refizemos, e relativamente às quais já ousámos construir e reconstruir respostas. E devemos continuar a fazê-lo de forma aberta, desempoeirada e, acima de tudo, construtiva.
Sem receio das divergências. Sem medo das opiniões dos outros. Sem esquecer, como afirmou Osho, que “o medo das opiniões dos outros é a maior escravidão do Mundo”.
Todos assumimos que a pluralidade de políticas é promotora de “independência”, entendida como progresso da cidadania e fortalecimento da democracia.
Antecipar dificuldades significará evitar situações de desgaste político, ganhar capacidade de decisão, tempo e oportunidade políticas. Será, portanto, prioritário uma agenda política bem ancorada, prioridades rigorosamente estabelecidas e, sobretudo, a competência necessária para construir convergências, internas e externas, indutoras de desenvolvimento e estabilidade política, tão essenciais neste novo tempo.
Antecipar dificuldades significará, também, a primazia das melhores escolhas. E fazendo as escolhas mais convincentes, caminharemos, com mais assertividade, para o sucesso político.
E assim cumpriremos o desígnio inserto nos diversos documentos que constituem a orientação estratégica e o compromisso político que todos assumimos com o Partido Socialista.
Este é o caminho que temos e continuaremos a percorrer. Um caminho centrado na capacidade de construir ou reconstruir convergências. Um caminho talhado com debate.
Um debate sem medos e sem preconceitos, sobre o papel do Partido Socialista e do seu lugar na vida política portuguesa, europeia e internacional, honrando, inequivocamente, a sua história passada e presente.
Honrando os contributos dados por homens e mulheres na construção do Portugal democrático.
Esta é a dimensão mais profunda do exercício da política.