“Quando aqui reunidos da última vez, era impossível prever o ano difícil que iríamos viver”, mas “hoje percebemos que as metáforas da ‘mola’ e da ‘luz ao fim do túnel’ não foram em vão”, graças ao “crescente ritmo das vacinações e à progressiva responsabilização cidadã”, que são “reconfortantes”, começou por referir o socialista na sessão solene comemorativa do 47º aniversário do 25 de Abril.
Alexandre Quintanilha explicou, depois, o significado de “esperança”: “É o de relembrar a determinação e ousadia daqueles que tornaram possível a conquista da liberdade e da autoestima dessa esmagadora maioria dos que sofriam a opressão de um regime baseado na perseguição, no medo e na falsidade, mas também o evento histórico que é vivido por todos nós, todos os dias. Quando jovens, elas e eles acreditam e lutam para que os seus sonhos se concretizem, ou quando cada um de nós decide quem quer ser, que profissão exercer, onde viver e com quem quer construir a sua família, o seu futuro e o do planeta”.
Com a revolução dos cravos, “os portugueses ganharam liberdade política. As portuguesas, todas as liberdades que lhes tinham sido sonegadas. A desigualdade, exposta nas Novas Cartas Portuguesas, ainda não foi completamente eliminada, mas ninguém desistiu. Somos agora milhões a exigir a igualdade e a estendê-la à exuberante multiplicidade de identidades emergentes”, apontou.
Alexandre Quintanilha mencionou, em seguida, que “são muitos, dentro e fora do país, que ficam surpreendidos com a consolidação da nossa democracia. Deixámos de estar na cauda dos países da OCDE e ultrapassámos a média de praticamente todos os seus indicadores de desenvolvimento”. Ora, “o que foi conseguido em 30 anos é gigantesco e o Partido Socialista pode orgulhar-se de ter sido um dos principais obreiros deste processo. Na educação, na saúde e na solidariedade, mas também no domínio da investigação e inovação, tanto tecnológica, como social e cultural”.
Admitindo que “não está tudo feito”, o parlamentar e cientista considerou “justo que ao continuarmos a lutar de forma ambiciosa, inclusiva, responsável e coerente, celebremos o trabalho realizado”.
E lembrou que, infelizmente, “a fragilização das democracias cresce e três quartos da população mundial vive longe dela. O populismo e a demagogia, fortissimamente financiados, ganham força de forma insidiosa. E os Estados Unidos da América escaparam por pouco”.
Pandemia mostrou que ou nos ajudamos mutuamente, ou naufragamos todos juntos
Alexandre Quintanilha asseverou depois que “os desafios que o futuro nos reserva são imensos” e garantiu que, “ou nos ajudamos mutuamente, ou naufragamos todos juntos. É essa também a lição da pandemia”.
Nesta lista estão “a emergência climática, as desigualdades obscenas, as novas e antigas doenças, a insegurança laboral, a transição demográfica e os conflitos armados”, que “não podiam ser mais evidentes”, enumerou.
Segundo o socialista, “vai ser muito difícil cumprir o acordo climático de Paris; prevê-se que dois terços das futuras doenças infeciosas sejam transmitidas dos animais ao homem; a escravatura atual é diferente e deixou de ser encapotada; as previsões apontam para alterações demográficas profundas com impactos desconhecidos na organização das sociedades”.
Por tudo isto, “precisamos de conhecimento, muito mais conhecimento, muito mais partilhado e em todos os domínios”, avisou Alexandre Quintanilha, que disse que “o digital vai ajudar muito, mas não chega”.
“Os investimentos necessários são enormes, é certo, mas ninguém duvide: a ignorância é muito mais cara. Sem a confiança dos cidadãos isso não será possível”, assegurou.
Portugal na linha da frente no clima
Alexandre Quintanilha salientou ainda que, “no tema do clima, Portugal está na linha da frente dos países”, uma vez que foi “o primeiro a comprometer-se com a neutralidade carbónica e o empenho dos deputados desta Assembleia nesse domínio é quase unânime. A tarefa da consensualização dos oito projetos de lei submetidos está em curso”.
E frisou que “o Eurobarómetro da passada sexta-feira mostra 89% dos portugueses a confiar na União Europeia”. Esta confiança “é recíproca e fruto do nosso empenhamento”, afirmou.
O deputado do Partido Socialista concluiu a sua intervenção garantindo que “é a multiplicidade e diversidade de visões que enriquece o debate democrático. A nobreza da política está precisamente na defesa intransigente da confrontação de ideias, mas também em conseguir agregar esforços para construir o tal mundo sustentável que todos desejamos. Sempre inspirada na empatia e na solidariedade e guiada pelo conhecimento e pela coragem. Sim, essa coragem destemida que nos permite renascer todos os dias. E, para sempre, em liberdade”.