Falando ao princípio da tarde de hoje, em Bruxelas, à entrada para o Conselho Europeu, o chefe do Governo lamentou que as propostas apresentadas pela Comissão Europeia, quer sobre a revisão do Quadro Financeiro Plurianual, quer em relação às reformas das regras orçamentais, sejam ambas “manifestamente insuficientes”, e que não contenham, respetivamente, um fundo soberano prometido por Bruxelas, “nem a capacidade orçamental própria defendida por Portugal”. Há a ideia cada vez mais assumida, disse, que a Europa do que precisa “é de um mecanismo permanente de estabilização de crises”.
“Não é apenas e só uma questão do interesse de Portugal, mas de toda a Europa”, disse ainda o primeiro-ministro, acrescentando que a expetativa criada para o fundo de soberania “está manifestamente insatisfeita com a proposta que agora é apresenta de revisão do orçamento para 2021/2027”, lembrando que se “as crises não são, felizmente, permanentes”, mas são, contudo, “recorrentes”, o que torna muito difícil “estarmos sempre a abrir uma discussão quando há uma crise”.
Para o primeiro-ministro, nada melhor do que comparar a crise financeira de finais de 2009, com os resultados devastadores que daí resultaram, por na altura a União Europeia não dispor de um mecanismo de apoio, e a forma segura como a Europa enfrentou e saiu da crise da Covid-19, ao dispor já de um conjunto de instrumentos de apoio.
Uma evidência que levou António Costa a afirmar ter “alguma dificuldade” em perceber a “persistência de alguns Estados” em ignorar esta realidade.
BCE e inflação
Neste encontro com os jornalistas, momentos antes de entrar para a reunião do Conselho Europeu, o primeiro-ministro referiu-se também à postura que o Banco Central Europeu insiste em manter perante a crise inflacionária, acusando o BCE de “especial incompreensão” sobre a natureza específica do ciclo inflacionista “que temos estado a viver”, olhando, menos do que devia, para os “aumentos dos lucros extraordinários” e mais “para as subidas salariais”.
“Se não conseguimos compreender a natureza específica deste ciclo inflacionista”, que limita muito “a capacidade de o enfrentar”, dificilmente se conseguirá “acertar no diagnóstico e a terapia”. E lá para setembro, como referiu, talvez “possamos começar a retomar uma trajetória política monetária mais adequada para salvaguardar as condições de vida das famílias, a capacidade de as empresas investirem e de a economia continuar a crescer e a gerar emprego”.
Houve ainda um momento para defender que a União Europeia “tem de olhar para a imigração como uma oportunidade para o desenvolvimento económico” e apontou o pacto para as migrações “como um instrumento essencial”.