Combate à violência doméstica exige uma mudança cívica e coletiva
Referindo-se aos dados mais recentes, que identificam nove mulheres vítimas mortais de violência doméstica, só no mês de janeiro deste ano, o líder do Governo socialista sustentou que “os números que conhecemos envergonham a sociedade que somos, são absolutamente intoleráveis”, acrescentando que “cada vida humana perdida num caso de violência doméstica é uma ofensa profunda à sociedade”.
Por isso, o primeiro-ministro anunciou que já esta quinta-feira, a ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, em conjunto com a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, vão reunir-se com a Procuradora-geral da República e responsáveis das forças de segurança, para se “aperfeiçoar a resposta que é necessário dar”.
“Nenhum de nós pode dormir descansado enquanto esta realidade existir na nossa sociedade, não podemos aceitar viver numa sociedade onde haja mulheres vítimas de violência doméstica, não podemos e não vamos querer viver nessa sociedade”, assegurou.
Na opinião de António Costa, “há um problema cultural, há um problema cívico”, e há também “um problema de perceção por parte das autoridades, a todos os escalões, desde as forças de segurança às magistraturas”.
“E é essa mudança coletiva que tem que existir”, sustentou. “Enquanto ainda houver no fundo do pensamento de muita gente aquela velha ideia que entre marido e mulher não se mete a colher, nós não conseguiremos exterminar da sociedade portuguesa essa chaga que é a violência doméstica”, vincou o líder socialista.
Governo reforça envolvimento de 154 municípios
Na segunda-feira, em Coimbra, foi celebrado o novo protocolo entre o Governo e os ‘Municípios solidários’, que passa a envolver a cooperação de 154 autarquias, mais 22 que no protocolo anterior, no esforço conjunto de apoio às vítimas de violência doméstica.
A secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, reforçou também, na ocasião, que o combate à violência doméstica é da responsabilidade de todos e exige uma “mobilização coletiva”.
“Hoje, mais 22 municípios reforçaram o seu contributo para ajudar neste processo de autonomização das mulheres, que têm de ser protegidas nas respostas de acolhimento, sejam casas de abrigo sejam respostas de acolhimento de emergência”, referiu, adiantando ainda que, no domínio da violência no namoro, estão a ser desenvolvidos 19 projetos por todo o país, além dos três que contam com o apoio direto do seu gabinete.
Apostar na educação e atuar “sem tréguas” contra os agressores
Rosa Monteiro referiu-se, igualmente, aos dados recentemente divulgados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas, que disse serem “absolutamente preocupantes”, “inquietantes” e “perturbadores”.
“Estamos perante uma situação de urgência” e que exige “uma atuação sem tréguas” e “intolerância” para com o “comportamento dos agressores”, disse, afirmando que existe também um trabalho que tem de ser feito “ao nível da educação”, para acabar com o sentimento de culpa das mulheres e para que “os agressores não se sintam legitimados e impunes”.
Os agressores “não representam uma ameaça apenas à vida das mulheres”, são também “ameaças à segurança pública da sociedade, das comunidades”, sublinhou a governante, apelando a que os casos de violência doméstica devam, sem hesitação, ser denunciados às redes de ajuda e de apoio, que, para esse efeito, “têm vindo a ser reforçadas”.