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Cidadã igual a toda a gente

Cidadã igual a toda a gente

Fernanda Tadeu, educadora, mulher de António Costa, confessa em entrevista não esperar grandes alterações na sua vida quando o marido for primeiro-ministro. Diz, isso sim, que os portugueses lucrarão com a mudança, já que ele “é o homem que vai devolver a dignidade a este país”. A única vantagem da sua futura situação será, segundo afirma, “passar a ter acesso direto ao primeiro-ministro”. Sobre a sua pessoa, considera-se igual a toda a gente, uma cidadã comum que não tem tido uma vida fácil, como a maior parte dos portugueses.
Cidadã igual a toda a gente

António Costa militou 14 anos na JS. E a Fernanda?
Nunca militei em nenhuma jota. Não venho de uma família politizada. O 25 de Abril para mim foi uma coisa nova. Frequentava um liceu que, esse sim, era muito politizado e muito extremado. Tinha amigos dos vários quadrantes políticos mas nunca me inscrevi em nenhum partido.

Mas o António tentou influenciá-la?
Não. O António é muito cuidadoso com a liberdade dos outros.

Como é ser-se mãe de dois filhos e ainda ser-se mulher de um político?
Ser-se mulher na minha geração é uma tarefa difícil, é preciso ter autonomia financeira para se ser inteiramente livre. Passar a ter uma profissão e uma carreira e juntarmos a ela as tarefas tradicionais da educação dos filhos, de organização da casa, foi difícil para mim e foi difícil para a maior parte das mulheres portuguesas. Foi difícil sobretudo nos primeiros 15 anos de trabalho. Era docente do Ministério da Educação e pertencia ao Quadro de Vinculação Distrital de Lisboa que hoje em dia já não existe, foi substituído por Quadro de Zona Pedagógica, o que significava que todos os anos tinha de concorrer e todos os anos não sabia em que escola ia lecionar. Começavam as férias, começava a angústia: onde é que eu fico em setembro? Foram anos difíceis! Hoje, os meus colegas sentem ainda mais duramente esta realidade porque muitos nem sabem se terão escola no ano seguinte.

Como é que imagina a sua vida como mulher do primeiro-ministro?
Acho que não vai haver grandes alterações. Sou uma pessoa com convicções, com objetivos, com valores, que aliás partilho com o António. Acho que aquilo que eu posso, e que já faço, é ter opiniões sobre o que me rodeia, é transmitir o que vejo e o que ouço como cidadã comum que sou e que anda na rua, que interage com as pessoas, que está atenta ao que a cerca. A grande vantagem, no caso de o António ganhar as eleições, é passar a ter acesso direto a um primeiro-ministro [risos…]

Costuma dar muitos conselhos a António Costa?
Mais opiniões sobre a realidade que vejo. Não sou a única. Há muitas pessoas que também o fazem. Se há qualidade que ele tem, é saber ouvir os outros. E ouvindo muita gente, ele consegue perceber melhor a realidade e tomar decisões. Acho que sou das pessoas que ele entende que vale a pena ouvir, mas sou uma entre muitas.

Como é que ambos costumam passar os tempos livres?
Como não temos muito tempo, são preciosos. Ponto um: gostamos de conversar. Precisamos de falar, de contar a nossa vida e partilhar as nossas angústias. Depois, gostamos de fazer caminhadas. Uma das nossas preferidas é atravessar as praias entre o Magoito e a praia da Aguda, sobretudo no inverno. Também gostamos muito de ir ao cinema. Quando ele tem tempo, às vezes fazemos sessões contínuas e vemos dois filmes seguidos [risos…]. Gostamos, também, de convidar amigos para nossa casa, de fazer uns petiscos. Normalmente é ele quem os faz e eu supervisiono. Os petiscos dele são maravilhosos, mas a cozinha fica num estado lastimável se eu não estiver lá.

Qual é o principal petisco do António Costa?
Há vários. Ele é muito rigoroso, pode estar horas no seu laboratório, que passa a ser a cozinha. Tem como especialidades: lombo Wellington, terrines e muqueca de camarão Também faz tripas à moda do Porto. Ele descobre boas receitas e executa-as bem e fica muito orgulhoso dos cozinhados e dos petiscos que oferece aos amigos.

Como é que descreve o António Costa?
Acho que é um homem corajoso, é muito persistente, vai atrás dos objetivos, sem nunca desistir. Se ele acredita em alguma coisa, vai até ao fim. Aconteça o que acontecer, ele vai, ele chega lá. Ele tem uma força que me parece imbatível. Persegue os objetivos e vai até ao fim. Acho que isto é o que mais o carateriza.

Vai participar na campanha? Todos os dias, ou só de vez em quando?
Vou mas acho a campanha muito cansativa. Não consigo ir todos os dias. Irei participar em alguns momentos e nos eventos mais significativos.

E os filhos vão?
Quando começar a campanha, estou convencida de que vão. Esta família tem um lema: “Um por todos e todos por um”! Quando algum precisa, estamos lá todos.

O António Costa já ocupou muitos cargos e a Fernanda foi sempre muito reservada. Porque é que agora decidiu dar-se a conhecer?
Porque este é um momento importante. E também porque esta é uma forma de nos darmos a conhecer, de nos humanizar. Eu já ouvi dizer muitas coisas sobre mim. As pessoas não me conhecem e fantasiam. Portanto, acho que é preferível que saibam como eu sou. Sou igual a toda a gente, sou uma cidadã comum, não tenho tido uma vida fácil como a maior parte das pessoas não tem. Esta é a minha vida, está exposta, é a vida de uma mulher comum.

Como é que vê hoje a profissão de professora?
Dura, sempre foi e continua a ser. Cada vez menos valorizada. E isso é uma mágoa, porque é a educação que nos leva mais longe. Acho que é uma área a que o António, se for primeiro-ministro, terá de dar uma prioridade absoluta. A educação tem de ser muito bem pensada.

Quais são as outras áreas em que considera prioritária uma intervenção?
O desemprego, claro. O crescimento do país. O investimento. Há muito a fazer para dignificar este país. Tenho a certeza de que o António vai tentar. Isso eu garanto! Acho que é o homem que vai devolver a dignidade aos portugueses.

O ANTÓNIO E EU
28 ANOS DE VIDA EM COMUM

Casados há 28 anos, Fernanda Tadeu e António Costa conheceram-se no Liceu Passos Manuel onde foram colegas nos antigos 6º e 7º anos (hoje 10º e 11º anos). “Era um, entre muitos”, diz, embora reconheça ter-lhe “achado graça” desde o início, pois era um jovem “simpático” e “corajoso”, já que era um dos poucos militantes assumidos da JS numa escola onde as posições políticas estavam extremadas – CDS e PSD de um lado; PCP e UDP do outro.

Foi a partir da viagem de finalistas a Torremolinos que Fernanda Tadeu e António Costa se aproximaram. A partir daí, passaram a andar sempre juntos: “éramos muito amigos”, nada mais – “lembro-me de passarmos noites inteiras a conversar sobre nós e sobre tudo”. Depois, “o António foi para Direito e eu para a Escola de Educadoras e mantivemos sempre o contacto”. O namoro “só começou cinco anos mais tarde” recorda. “De facto, demorou! Éramos só os melhores amigos, não éramos namorados. Às vezes as coisas dão um clique e mudam. Foi o que aconteceu!”

Depois de casada e de uma curtíssima lua-de-mel em Veneza, “fomos os dois para Tavira” quando o António foi para a tropa. “Costumo dizer que fomos os dois para a recruta: foi uma lua-de-mel em cheio! Sozinha e a lavar fardas cheias de lama”. Desde essa altura, afirma “quase nunca tive tempo para acompanhar o António-político. O meu dia era a trabalhar, numa atividade muito exigente. Chegava a casa cansada e sem capacidade para fazer mais nada. Sempre entendemos que cada um de nós tinha uma vida própria e que nem sempre podíamos estar juntos”, acrescenta.

E agora, está preparada para ser mulher do primeiro-ministro? “Não. Acho que será um treino que vou ter de adquirir” [risos…]. “Penso que cada um de nós tem uma vida própria e há momentos em que nos encontraremos. Claro que continuaremos a ser o pilar um do outro e por isso vivemos juntos. Mas nunca viverei a vida de outra pessoa. A minha é muito importante e já me dá muito trabalho! É uma questão de autoestima e de orgulho de ser quem sou. Eu não quero ser a mulher de ninguém. Chamo-me Fernanda Tadeu, tenho uma identidade. Para além disso orgulho-me muito do meu marido e confio em absoluto nele!”