“É hora de construir e não de estar a imaginar já a próxima catástrofe”, declarou Augusto Santos Silva em entrevista às rádios Renascença e TSF, ocasião em que recordou a mensagem deixada pelo líder socialista, Pedro Nuno Santos, no final da noite eleitoral, quando, “de forma clara e inequívoca”, deixou expresso que “o PS vai liderar a oposição em Portugal”.
“Qualquer moção de rejeição ao futuro Governo não conta com o apoio do PS”, enfatizou Santos Silva.
“Há uma maioria de direita no Parlamento composta por forças que tiveram como objetivo durante a campanha eleitoral retirar os socialistas do Governo e esse objetivo foi alcançado”, contextualizou o candidato do PS, para de seguida explicar que “cabe agora a essas forças assegurar uma solução política para o país”.
Da parte do PS, insistiu, “respeitamos e aceitamos com humildade democrática o veredicto popular e lideraremos a oposição”.
E neste ponto, advogou ser preciso que o PS e o PSD coloquem os interesses do país em primeiro lugar.
“Muita humildade, ponderação, prudência e muito sentido de Estado, que é o que está a faltar já há uns tempos em Portugal”, lamentou, lembrando que “o PS teve uma maioria nas eleições de 2022, constituiu um Governo e essa maioria parlamentar funcionou de forma coesa, até que se colocou um problema extrapolítico”.
Após sublinhar a importância de salvaguardar que a democracia portuguesa continue “nas mãos de forças moderadas e democráticas”, Augusto Santos Silva notou que “o PSD não dispõe de maioria no Parlamento, nem sozinho, nem em coligação com o CDS ou mesmo com a Iniciativa Liberal”.
E exortou o partido liderado por Luís Montenegro a “ter a largueza de espírito para perceber que pontos do seu programa não pode concretizar”, porque, notou, “são pontos que contariam com a oposição firme do restante arco parlamentar”.
Assim mesmo, Santos Silva considerou fundamental haver “entendimentos com o PS em áreas como a justiça” que, “pela sua importância, aconselham a que haja diálogo, cedência mútua, negociação e compromisso entre os dois partidos, ou entre o Governo e a oposição”.
Defendeu que “um ser governo e o outro ser oposição não significa que não se entendam nas áreas em que é preciso entender-se e não significa que radicalizem as suas posições, quando estas são tradicionalmente próximas”.
Augusto Santos Silva avisou ainda que “a pior coisa que podia suceder a Portugal seria ter um bloco central assumido ou envergonhado e o Chega a liderar a oposição”.
“O país já pagou um preço bastante elevado por, ao longo de 2023, senão mesmo ao longo de 2022, se terem sucedido os comentários sobre uma eventual interrupção da legislatura”, disse em modo de reflexão.
Também o seu antecessor na presidência da Assembleia da República e antigo Secretário-Geral socialista, Eduardo Ferro Rodrigues, aconselhara ontem a uma gestão serena da estabilidade política e a afastar um cenário de novas eleições num horizonte próximo.
Ferro Rodrigues defendeu que o mais importante neste momento é “dar tempo” ao líder da AD para conduzir o Governo e a Pedro Nuno Santos “para reconstruir, à esquerda, uma plataforma suficientemente forte que possa ganhar as eleições e que possa combater a extrema direita. E isso não se faz em poucos meses”.