A vice-presidente da Assembleia da República lembrou, no debate requerido pelo Livre sobre o reconhecimento da independência da Palestina, que “o conflito entre Israel e a Palestina é um dos mais longos e complexos da História contemporânea” e, no início do século XXI, a situação “tornou-se mais complexa com a emergência de grupos extremistas islâmicos, como o Hamas, o Hezbollah e o Estado Islâmico, por um lado, e a ascensão ao poder, em Israel, de uma direita prepotente que não acredita na solução de dois Estados e tudo tem feito para a boicotar”.
“A Faixa de Gaza e a Cisjordânia transformaram-se no que muitos apelidam de prisões a céu aberto, o que representa uma gritante violação dos Direitos Humanos”, salientou a socialista, que considerou que o ataque terrorista perpetrado pelo Hamas no “trágico dia 7 de outubro” tem de ser “condenado sem reservas, como todos os atos terroristas”.
“As atrocidades cometidas pelo Hamas, de uma violência extrema contra civis indefesos, matando indiscriminadamente mais de um milhar de israelitas, muitas mulheres e crianças, fazendo 240 reféns, incluindo estrangeiros, semeando o mal num total desrespeito pelos Direitos Humanos, ficaram gravadas na pedra como um dos momentos mais tenebrosos da Humanidade”, assegurou Edite Estrela, frisando que “ninguém põe em causa o direito de Israel defender a sua população e o seu território”.
No entanto, “agora já não se trata disso”, vincou a deputada socialista, que alertou que “por maiores que tenham sido as atrocidades cometidas pelo Hamas – e foram –, não se resolvem com mais atrocidades”.
“A resposta de Israel, legítima se respeitasse o Direito Internacional, transformou-se numa reação de vingança, numa matança indiscriminada de que o assassinato dos três reféns israelitas é paradigmático”, lamentou Edite Estrela.
A também vice-presidente da Assembleia da República lembrou que se tratava de “homens indefesos, de tronco nu e acenando com roupa branca a sinalizar a sua condição de civis a pedir paz”. “Foram abatidos como se de um grupo armado se tratasse”, deplorou.
Tem de haver um reconhecimento conjunto do Estado da Palestina
Edite Estrela mencionou em seguida todos os esforços do secretário-geral das Nações Unidas a pedir ajuda humanitária, moderação e a libertação de todos os reféns do Hamas, que culminou com António Guterres, no dia dos Direitos Humanos, a 10 de dezembro, a lamentar que o Conselho de Segurança da ONU não tenha votado a favor de um cessar-fogo em Gaza.
Para a deputada do Partido Socialista, “há hoje uma convicção muito profunda e partilhada de que a única solução é mesmo reconhecer o Estado da Palestina”. No entanto, “não devemos repetir os erros do passado”, que nos diz que “o reconhecimento isolado não serve para nada”, avisou.
Por isso, “o reconhecimento isolado por parte de Portugal seria inconsequente. Para ter impacto, temos de evoluir para um reconhecimento conjunto”, defendeu Edite Estrela, adiantando que “Portugal e vários países europeus estão a trabalhar num roteiro para o reconhecimento conjunto do Estado da Palestina”.
Assim, os deputados do Partido Socialista recomendam ao Governo, através de um projeto de resolução, que “encete todos os esforços diplomáticos para defender a criação do Estado da Palestina, a par da existência do Estado de Israel, lado a lado, a viver em paz e segurança, tal como previsto no Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947”, disse.