O socialista, que falava durante a reunião da Comissão Permanente, começou por assinalar que, “quando, em 2020, estávamos a iniciar a libertação da crise social e económica, afundámos de novo com tudo o que a pandemia do século nos trouxe”. E acrescentou que “quando Portugal se preparava para aplicar, em simultâneo, três programas europeus, o Governo vê o seu Orçamento reprovado”.
Nesta que foi a última reunião da Comissão Permanente do ano, Ascenso Simões avisou todas as bancadas que “nenhum cientista político encontrará as razões para este triste tempo”.
Para o parlamentar, o que “interessa a Portugal é, em traços largos, organizar a esperança”, que, no fundo, “é o nosso acontecer coletivo”.
“Organizar a esperança elegendo o diálogo Norte/Sul, encontrando soluções para a pobreza, fazendo face às migrações que procuram mundos melhores”, e “aumentando a segurança sem ceder nas liberdades, optando pelo diálogo religioso e pela paciência no crescimento dos povos sem tutelas ou amarras”, asseverou.
Ascenso Simões sublinhou a importância de continuarmos a ser “um dos países mais seguros do mundo perante as ameaças”, com a reforma e valorização das polícias, para que o “sistema judicial se confirme justo”.
Em seguida defendeu que o país tem de ser sustentável: “Importa uma nova e mais imaginativa política para a água, interessa uma outra visão do valor económico dos resíduos”. “Organizar a esperança para que a guerra entre a proteção e produção não ponha em causa o mundo rural, para que se encontrem novas e amplas formas de fabrico de bens e serviços, para que o país não seja, por mais tempo, um simples guiché dos fundos comunitários”, disse.
O país tem de continuar a “apostar, com sentido, na educação e na formação, olhando para as novas realidades cognitivas”, frisou o deputado do PS, que afiançou que existe uma obrigação que deve ser assumida que “é não querer que os nossos jovens sejam marcados pela normalização”. “Deixemos os jovens ganhar o país para si, não queiramos marcar-lhes o futuro que só a eles cumpre”, notou.
Não esquecendo a “prestação de serviços de saúde com qualidade e sem despesismo”, Ascenso Simões explicou que “organizar a esperança é olhar longe”, como por exemplo “garantir as pensões dos mais velhos hoje e amanhã, sustentar territórios a caminho de não terem vivalma, remover a marginalização dos espaços metropolitanos”. Por isso, o socialista afirmou que “organizar a esperança é, em suma, organizar a cidadania para um tempo de virtualização e de solidão”.
“Ora, organizar a esperança não se pode fazer entrando, de novo, em instabilidade política, em ciclos curtos de governação. Organizar a esperança exige um Governo forte, capaz e sustentado parlamentarmente”, vincou o deputado do Partido Socialista.
Ascenso Simões, que não regressará como deputado na próxima legislatura, despediu-se do Parlamento reafirmando a “honra” de ter servido o país e deixou um “abraço fraterno” ao Grupo Parlamentar do Partido Socialista e à presidente da bancada do PS, Ana Catarina Mendes. Já à Assembleia da República, o socialista desejou uma “longa e democrática vida”.