A deputada, numa intervenção no debate preparatório do Conselho Europeu, na última Comissão Permanente da Assembleia da República na presente legislatura, observou que “os longos anos de paz relaxaram as preocupações da União Europeia com a sua autodefesa, reforçando a sua dependência dos estados Unidos como escudo seguro”.
Rosário Gambôa sublinha, por isso, que “a Europa precisa de repensar, reorganizar e investir na sua política de defesa”, de forma a concertar “um conjunto de medidas que lhe permitam superar debilidades como produzir ou adquirir armamento para abastecimento próprio”, que ficaram patentes na incapacidade de cumprir o compromisso de fornecimento à Ucrânia de um milhão de munições até março.
É no sentido de uma autonomia estratégica da Europa que o Partido Socialista vê a recente aprovação, pela Comissão Europeia, da Estratégia Industrial de Defesa até 2030.
Para a deputada, é neste plano que “a defesa e a industrialização, assim como a investigação, desenvolvimento e inovação, se unem numa abordagem estrutural que visa, a longo prazo, aumentar a prontidão da indústria de defesa europeia incentivando a produção interna e simultaneamente, facilitar contratos de compra conjunta de equipamento militar pelos Estados-membros”.
Lembrando que há mesmo a meta de aumentar até 2030 pelo menos 35% do valor do mercado da defesa da União Europeia e que várias medidas deste programa são intercetadas com outros programas, a vice-presidente da bancada do PS alertou, contudo, que a dotação base de 1,5 mil milhões de euros afeta à Estratégia Industrial de Defesa é um valor “bem longe dos 100 mil milhões de euros previstos pelo comissário para o Mercado Interno, Thierry Breton”.
“O investimento financeiro é crucial”, defendeu, apelando à recetividade dos Estados-membro à hipótese colocada pela Comissão Europeia de usar os lucros dos juros dos ativos russos para apoiar a indústria de defesa ucraniana e a compra conjunta de equipamentos militares para Kiev.
Rosário Gambôa salientou ainda o papel crucial da NATO na defesa coletiva, saudando a entrada da Suécia como 32º membro da Aliança Atlântica e alertando para a “situação difícil” que poderá advir com os resultados das eleições para a Presidência dos EUA.
Nesse sentido, a deputada considerou “absolutamente incompreensível e intolerável” a declaração de Viktor Órban, Presidente da Hungria, “um país europeu e membro da NATO”, segundo o qual Donald Trump lhe teria assegurado que “não vai dar meter um único tostão na guerra Ucrânia-Rússia e a Europa, fazendo o mesmo, a guerra vai acabar”.
“A irresponsabilidade, o desrespeito e a descredibilização das instituições, tornaram-se formulas de sucesso para o mediatismo político populistas”, afirmou, deixando uma velha pergunta da filosofia com particular ressonância no momento presente: “Até que ponto devemos ser tolerantes com os intolerantes?”