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António Vitorino: AD é “tiro no escuro” que não responde aos desafios do país

António Vitorino: AD é “tiro no escuro” que não responde aos desafios do país

Para o antigo comissário Europeu António Vitorino, a escolha que os portugueses têm de fazer no próximo domingo é clara: “ou continuamos a optar pelo milagre económico, como o testou o insuspeito Paul Krugman, prémio Nobel da Economia, ou apostamos em quem quis ir além da troica, empobrecendo o país de forma deliberada”.

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António Vitorino

Intervindo ontem à noite no grande comício do PS no Centro de Congressos de Aveiro, o histórico dirigente socialista e ex-diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, António Vitorino, apelou a que os eleitores no próximo domingo não deem “um tiro no escuro” votando AD, advertindo também que, perante o atual contexto internacional de incerteza, “não é o voto de protesto que vai resolver a origem do seu descontentamento”.

Para António Vitorino, não é numa altura destas em que o “mundo está perigoso e os tempos que se avizinham não vão ser nada fáceis”, com uma guerra na Europa e o “massacre em curso na Faixa de Gaza”, com várias economias europeias a entrar em recessão e uma tensão crescente entre os Estados Unidos da América e a China, que os portugueses devem fazer experiências, confirmando que a decisão que os eleitores vão ser chamados a tomar no próximo dia 10 de março “é crítica, não apenas para o futuro do nosso país, mas para a forma como nos vamos posicionar neste mundo conturbado em que vivemos”.

Lembrando a sua experiência política, várias vezes chamado a funções governativas, nomeadamente, como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no IX Governo Constitucional, entre 1983 e 1985, e mais tarde como ministro da Defesa do XIII Governo Constitucional liderado por António Guterres, entre 1995 e 1997, António Vitorino defendeu que no atual contexto político “é importante ter experiência governativa”, justificando que essa prática permite a quem governa “antecipar riscos, prever e planear opções alternativas e mobilizar a sociedade no seu conjunto para enfrentar os desafios”.

De acordo com o também antigo Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional, o momento politicamente agitado que o país vive aconselha a que não se deem “tiros no escuro ou se façam apostas em quem não tem experiência governativa”, defendendo António Vitorino que só reforçando a votação no PS permitirá que Portugal “continue a ter estabilidade governativa, diálogo social e o sempre inquebrantável compromisso com o projeto europeu”.

António Vitorino dirigiu depois severas críticas ao PSD e à sua liderança, lembrando que na última vez que a direita coligada exerceu funções governativas, conseguiu a façanha inimaginável, como realçou, de ultrapassar as já de si restritivas medidas impostas pela troica, e aplicar uma receita “que pôs verdadeiramente em causa alguns dos fundamentos essenciais do Estado social”.

O que se passa, não havendo, contudo, coragem política para o confessar, acrescentou, é que a AD de 2011 a 2015 é exatamente a mesma que se apresenta em 2024 aos portugueses, talvez com a novidade de “agora nos acusar de sermos muito ideológicos”, esquecendo propositadamente “o ‘flirt’ descarado que ambos mantiveram com as teorias neoliberais” e que não hesitarão em as replicar “caso o país volte a viver tempos difíceis”.

Olhar para os indecisos

Depois de elogiar os oito anos da governação socialista e o programa eleitoral com que o PS se apresenta às eleições legislativas do próximo domingo, dia 10 de março, o antigo dirigente socialista dirigiu-se aos indecisos e aos descontentes assegurando-lhes que a “abstenção é uma desistência da democracia”, e que o regime democrático, “não sendo perfeito”, comporta, contudo, a capacidade impar de se poder “aperfeiçoar na liberdade”, o que só sucede, insistiu, “quando exercemos o nosso direito de voto”.

António Vitorino advertiu ainda de que de nada servirá o voto de protesto, salientando que a eficácia desta decisão, “não contém qualquer energia produtiva e construtiva”, esgotando-se “no preciso momento em que ele é feito na cabine de voto”.

Mesmo como “grito de alma”, acrescentou, esse voto de protesto não só não vai contribuir ou ajudar a revolver o que quer que seja, “dando às pessoas as soluções que estão na base do seu descontentamento”, como não é seguramente a votar na direita “extremista e radical, racista, xenófoba e antidemocrática” que se encontrarão as soluções de que o país carece.

Lutar contra o corte de pensões

Antes de António Vitorino tinha usado da palavra a presidente da Associação dos Reformados e Pensionistas, Maria do Rosário Gama, que apelou ao voto no PS, recordando as inúmeras tentativas da direita para cortar as pensões durante o período da troica, muitas “só impedidas pelo Tribunal Constitucional”. Lamentando a forma iníqua como PSD e CDS se referiam na altura aos pensionistas, designando-os, como “malandros que nada faziam e que os novos é que andavam a trabalhar para nós”, chegando ao ponto, como também lembrou, de “quererem tirar o subsídio de férias alegando que os reformados estão sempre em férias”. Do que nunca se vão livrar, disse ainda Maria do Rosário Gama, é do desejo inconfessado “de quererem que os velhos morressem todos”.

Já o presidente da Federação Distrital de Aveiro, Jorge Sequeira, concentrou a sua intervenção no apelo ao voto no PS, considerando as eleições de domingo “tão ou mais importantes do que as eleições da Assembleia Constituinte”, em 1976, referindo que a escolha do próximo dia 10 de março, tal como António Vitorino defendeu, é entre um projeto económico e social com futuro, liderado pelo PS, ou o regresso ao passado com a AD com os portugueses a empobrecer e o país a andar para trás.

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