António Guterres defende visão estratégica conjunta para desafios da inovação tecnológica
“Temos de olhar para o futuro próximo com uma visão estratégica, que combine a atuação de governos, sociedade civil, setor privado e academia para que a inovação tecnológica seja uma força para o bem”, defendeu o antigo primeiro-ministro português, intervindo no primeiro dia da conferência global de tecnologia e empreendedorismo.
“Esta quarta revolução industrial”, como lhe chamou António Guterres, “terá um impacto dramático nas sociedades e na nossa maneira de viver nos mercados, por isso é importante antecipar o impacto da evolução tecnológica”, sustentou, oferecendo um exemplo quotidiano.
“Os condutores são a maior força de trabalho onde eu vivo, nos Estados Unidos, mas com a automatização e a robotização teremos de aprender a antecipar o futuro para evitarmos uma taxa de desemprego massiva”, apontou.
O secretário-geral das Nações Unidas argumentou que o desafio que se coloca “não é aprender a fazer coisas, mas sim aprender a aprender, porque as coisas que fazemos hoje não são as coisas que faremos amanhã”, vincando que a solução não passa por tentar travar a inovação tecnológica mas sim por aproveitá-la como bem comum.
“Temos de evitar a reação estúpida de tentar parar a inovação. Isso é estúpido porque é impossível e porque impede que tenhamos os benefícios positivos. Mas temos também de evitar a ingenuidade de pensar que as formas tradicionais de regulação para sectores como a energia ou o sistema financeiro podem resolver o problema”, assinalou.
A ciência está do nosso lado
Numa intervenção onde passou em revista alguns dos principais problemas e desafios com os quais a Humanidade está confrontada, como as alterações climáticas, o crescimento económico, a pobreza ou as migrações resultantes das desigualdades, Guterres defendeu que “a globalização é uma força para fazer o bem, e as novas tecnologias também”.
“A resposta aos danos colaterais é uma globalização justa, mas a boa notícia é que a ciência está do nosso lado”, acentuou, dando como exemplo a “economia verde”, que considerou ser “a economia do futuro”.
Na sua intervenção, o antigo primeiro-ministro português congratulou-se ainda com a oportunidade que a conferência de Lisboa oferece à discussão em torno destes temas e dos desafios que lhes estão subjacentes.
“É bom que os participantes aqui comecem a discutir o impacto da quarta revolução no futuro, porque a ciência e a tecnologia não são neutras”, advogou.