Único candidato formal à liderança das Nações Unidas, cargo que exerce desde 1 de janeiro de 2017, por ter sido o único a ser nomeado por um Estado-membro – Portugal – e a ser validado pelo Conselho de Segurança e Assembleia Geral da ONU, António Guterres apresentou-se perante o órgão colegial da organização, em Nova Iorque, para uma sessão de diálogo informal com os representantes dos Estados-membros e para responder a perguntas da sociedade civil.
No seu discurso introdutório, proferido em inglês, francês e espanhol, António Guterres começou por recordar os princípios que guiaram a sua entrada na vida política e o seu mandato como primeiro-ministro de Portugal, entre 1995 e 2002, e mais tarde o exercício do cargo de Alto Comissário da ONU para os Refugiados, explicando, depois, os motivos pelos quais decidiu candidatar-se a secretário-geral das Nações Unidas.
“Não existem soluções humanitárias para os problemas humanitários. A solução é sempre política”, declarou.
Depois de, em março, ter dado a conhecer a sua visão (“Vision Statement”), António Guterres aproveitou o diálogo de hoje para “um testemunho mais pessoal”, prometendo lidar com “os complexos desafios” da atualidade com uma “abordagem humilde”.
“O secretário-geral sozinho não tem todas as respostas, nem procura impor seus pontos de vista”, afirmou, defendendo o apoio mútuo entre a ONU e 193 Estados-membros, posicionando-se como “convocador, um mediador, um construtor de pontes e um intermediário honesto” para ajudar a encontrar “soluções que beneficiem a todos”.
Voltando a sublinhar alguns dos princípios orientadores no seu primeiro mandato, enfrentando riscos globais como a crise climática, as desigualdades, os ciberataques, a proliferação nuclear e os direitos humanos, o secretário-geral das Nações Unidas manifestou-se satisfeito com “alguns progressos” que foram alcançados, declarando, contudo, ser preciso “superar alguns dos legados do século 20” e “conflitos que são mais complexos que nunca”.
“A globalização, progresso tecnológico e económico, sistemas que se baseiam no consumo infinito e ignoram a coesão social, o desenvolvimento sustentável e bem-estar, também contribuíram para o crescimento de desigualdades, criando divisões, principalmente na área digital, e causando estragos à natureza e ao clima”, apontou, voltando a defender um “novo contrato social” para a reconstrução da sociedade depois da pandemia de Covid-19.
“Acredito que estamos num ponto de viragem na história”, acrescentou.