António Guterres aclamado secretário-geral da ONU
“O mérito óbvio e primeiro é do engenheiro António Guterres, que ao longo de toda sua vida, quer como primeiro-ministro, quer ao longo de dez anos como Alto Comissário para os Refugiados, quer neste longo processo de seleção, revelou ser a pessoa mais bem colocada para exercer funções como secretário-geral das Nações Unidas”, disse António Costa, após ter sido conhecido ontem o resultado inequívoco da última das seis votações no Conselho de Segurança.
“Já tive oportunidade não só de lhe falar ao telefone, como de lhe dar um abraço e de viva voz dar-lhe os meus calorosos parabéns”, adiantou o chefe do Governo, reiterando o orgulho que sente como amigo e como primeiro-ministro por “este extraordinário resultado”.
António Costa afirmou sentir, “como português”, um enorme orgulho, e como “cidadão do mundo, uma enorme satisfação, porque tudo indica que vamos ter a pessoa certa no lugar certo”.
O primeiro-ministro fez ainda questão de sublinhar o grande trabalho da diplomacia portuguesa e de agradecer “a todo o país, a todos os órgãos de soberania e a todos os partidos políticos, que se empenharam para que este resultado fosse possível”.
“Agora as Nações Unidas ficarão em boas mãos”, sublinhou António Costa.
António Guterres: 40 anos de serviço público
Nascido há 67 anos em Lisboa, António Manuel de Oliveira Guterres formou-se em Engenharia Eletrotécnica no Instituto Superior Técnico, em 1971, com a classificação final de 19 valores.
Filiado no Partido Socialista, é eleito deputado à Assembleia da República em 1976, cargo que desempenha ao longo de 17 anos, chegando a líder da bancada socialista.
Em 1992, é eleito Secretário-geral do Partido Socialista, sucedendo a Jorge Sampaio, protagonizando um amplo movimento de debate que mobilizou a sociedade civil e o país, através dos designados “Estados Gerais para uma Nova Maioria”, dando origem a um documento programático, aprovado em maço de 1995, de contrato de legislatura entre o Partido Socialista e os portugueses.
Lidera o Partido Socialista à vitória nas eleições legislativas de outubro de 1995, tornando-se primeiro-ministro de Portugal, resultado que renova em 1999, liderando o governo português até dezembro de 2001.
Ao longo da sua vida, manteve sempre iniciativas no campo da solidariedade: fundou o Conselho Português para os Refugiados e a Associação para a Defesa do Consumidor (DECO), tendo ainda presidido ao Centro de Ação Social Universitário, uma associação responsável por projetos de desenvolvimento social em bairros desfavorecidos em Lisboa.
Foi presidente da Internacional Socialista entre 1999 e 2005, de onde saiu para chefiar o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), entre junho de 2005 e dezembro de 2015.
Na liderança do ACNUR, promoveu uma profunda reforma estrutural no organismo, triplicando o seu volume de atividades, num mandato marcado por algumas das maiores crises de refugiados e deslocados das últimas décadas, nomeadamente devido aos conflitos na Síria, Iraque, Sudão do Sul, República Centro-Africana e Iémen.
A sua candidatura ao cargo de Secretário-geral das Nações Unidas foi anunciada no início deste ano pelo Governo português, encetando um processo inédito de escolha, marcado pela transparência, ao longo do qual os candidatos participaram em debates e audições públicas promovidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas, tendo António Guterres vencido de forma clara todas as 6 votações no Conselho de Segurança. Recomendado por aclamação, vai ser o 9º Secretário-geral da ONU.