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“António Ferro – O Inventor do Salazarismo”, de Orlando Raimundo, um livro necessário

“António Ferro – O Inventor do Salazarismo”, de Orlando Raimundo, um livro necessário

UMA SUGESTÃO DE JOÃO RODIL*
“António Ferro – O Inventor do Salazarismo”, de Orlando Raimundo, um livro necessário

As Publicações Dom Quixote lançaram, no passado dia 9 de Abril, na Livraria Buchholz, um livro fundamental para o entendimento do período do Estado Novo. Trata-se de um apurado e desmistificador trabalho de investigação, obra do escritor e jornalista Orlando Raimundo, em torno da figura mítica de António Ferro.

Mais do que uma biografia desta enigmática figura, verdadeiro criador de toda a propaganda salazarista, esta obra oferece-nos, por um lado, uma desconstrução surpreendente da vida de António Ferro e, por outro, revela-nos episódios de elevada importância para o entendimento do seu percurso e que o colocaram como figura proeminente junto do governo ditatorial.

Utilizando uma linguagem acessível a todos os públicos, plena de linearidade e numa concepção textual onde percebemos, com facilidade, a reconhecida veia jornalística do autor, Orlando Raimundo não deixa, no entanto, de elevar agradavelmente a sua prosa ao nível literário. Ou seja, embora se trate de uma investigação histórica, António Ferro – O Inventor do Salazarismo não é um ensaio académico. Foi escrito para todos.

Percebe-se que Orlando Raimundo não tem qualquer afinidade ideológica com o criador da Propaganda Nacional e do Serviço Nacional de Informação que deu sustentabilidade cultural e traçou todo o ideário dos primeiros anos do governo de António de Oliveira Salazar. Mas nem por isso o autor deixa de reconhecer os méritos deste homem, simultaneamente sombrio e singular, oportunista inteligente que soube aproveitar, na sua ascensão, os factos e os momentos que a vida lhe ofereceu.

Numa época em que celebramos os 100 anos da publicação da Revista Orpheu, também por isso importa lermos este valioso trabalho – pois António Ferro foi o editor dessa revista que mudou os paradigmas da Arte em Portugal, muito embora, afinal, sem o saber, já que foi nomeado por Mário de Sá-Carneiro à revelia e apenas porque era menor e inimputável perante a Lei. Mas, sobretudo, porque esta obra é uma peça incontornável para o entendimento de uma das figuras mais destacadas da primeira metade do século XX e, de igual modo, para percebermos o meio cultural, político e social em que se movimentou.

*Escritor, autor de “Serra, Luas e Literatura”