António Costa voltou ontem a criticar aqueles que censuram o apelo do PS a uma maioria absoluta, contrapondo que o partido sempre foi de diálogo e de encontrar consensos, dando a este propósito o exemplo do seu próprio passado como presidente da Câmara Municipal de Lisboa durante seis anos, em que parte desse tempo o PS desfrutou de uma maioria absoluta, mas nem por isso, como referiu, “deixei de dialogar com todos” e de incorporar na política camarária muitas das ideias e das propostas dos partidos da oposição.
Falando ontem num comício no Algarve, depois da intervenção da cabeça de lista socialista pelo círculo de Faro, Jamila Madeira, o líder do PS e primeiro-ministro voltou a criticar o BE e o PCP por terem chumbado o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) logo na fase embrionária do processo, como lembrou, uma posição que António Costa considerou ser “absolutamente imperdoável”, sobretudo num momento, como assinalou, “em que se exigia unidade” e em que todos deviam “arregaçar as mangas para recuperar aquilo que se perdera durante a crise pandémica”.
Para o líder socialista, de pouco servem agora as justificações de bloquistas e de comunistas quando vêm “com a desculpa” de que, na altura, o que queriam afinal era negociar, lembrando António Costa que foram vários os meses em que “estivemos a negociar” com o resultado que se sabe.
Um Orçamento do Estado que, na opinião de António Costa, quando em vigor, teria significado uma “clara melhoria” nas políticas fiscais, designadamente com a redução de impostos para a classe média, das famílias com filhos e dos jovens em início de atividade, e da saúde, com medidas de reforço do SNS. E que teria ainda, como também assinalou, trazido claros benefícios para a vida dos pensionistas, que neste momento, por exemplo, “já teriam recebido este mês de janeiro um aumento extraordinário de pensões, e que só não vão recebê-lo porque BE e PCP chumbaram no Parlamento o OE2022”.
Este, ainda segundo António Costa, “não era um Orçamento do Governo ou do António Costa, mas o Orçamento para os portugueses”, lamentando que numa altura em que todos estão nesta campanha eleitoral a defender que é preciso menos impostos, “tenham perdido uma excelente oportunidade de termos menos impostos ao não terem aprovado o Orçamento para 2022”.
PSD quer classe média a pagar o SNS
Neste encontro de campanha em Faro, que teve lugar na Escola Profissional desta cidade algarvia, realizado no âmbito da campanha eleitoral para as eleições legislativas de 30 de janeiro, o líder socialista preencheu grande parte da sua intervenção com críticas diretas às propostas do PSD, apontando sobretudo duas linhas de demarcação face ao partido liderado por Rui Rio: nas matérias fiscais e na saúde.
Quanto às primeiras, António Costa fez uma clara distinção entre as propostas da direita e as do PS, referindo que enquanto o PSD apenas admite descer o IRS em 2025 ou mesmo só em 2026, como anunciou Rui Rio no debate televisivo com o líder socialista, alegando haver a necessidade de se ver o andamento da economia, o PS, pelo seu lado, garantiu o Secretário-geral socialista, com o novo Governo vai de imediato “baixar o IRS já este ano para a classe média, para os jovens e para as famílias com filhos”.
Já quanto ao IRC, as propostas do PSD, como também já anunciou, apontam para baixar os impostos de forma indiscriminada para todas as empresas, “independentemente das suas práticas de gestão”, enquanto o PS, pelo contrário, como lembrou António Costa, “será mais seletivo”, apenas se propondo baixar impostos às empresas que “invistam e apostem na inovação e na modernização, e que tenham contratos coletivos de trabalho e boas políticas salariais”.
Em relação à saúde, outra das áreas em que há uma clara e evidente clivagem entre PS e PSD, António Costa acusa a direita e o partido liderado por Rui Rio de quererem pôr a classe média a pagar a saúde, eliminando a regra constitucional de um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito.