António Costa saúda reforço da cooperação face a desafios comuns
“Só assim conseguiremos criar sociedades mais abertas, mais inclusivas e mais tolerantes onde todos possamos viver em paz e em segurança”, afirmou António Costa, intervindo na sessão plenária da primeira cimeira União Europeia-Liga Árabe, em Sharm el-Sheikh.
O primeiro-ministro português abordou também, na sua intervenção, o esforço comum aos dois blocos para fazer face aos fenómenos do terrorismo e aos conflitos regionais, enaltecendo os sinais de esperança que podem ser observados no mundo árabe.
“A experiência dos últimos anos comprovou que a Europa e o mundo árabe devem reforçar a sua cooperação para fazer face a desafios que, mesmo quando são de índole local, se repercutem poderosamente além-fronteiras”, disse, apontando, entre estes desafios, o terrorismo, a criminalidade organizada transnacional, o colapso de estruturas estatais ou os conflitos existentes tanto no interior como entre Estados.
“O exemplo mais eloquente é a trágica e devastadora guerra civil na Síria, causa de indizíveis sofrimentos, que não podem deixar de nos indignar”, considerou.
António Costa notou, todavia, as “novas perspetivas” que parecem estar a abrir-se, com a derrota do Daesh no Iraque, que “melhorou a situação de segurança no país e abriu caminho para a consolidação das estruturas do Estado”.
“Na Líbia, esperamos que a Conferência Nacional promovida pelo Representante Especial do Secretário-Geral da ONU, Ghassam Salamé, produza resultados positivos. No Iémen, desejamos que o processo iniciado em Estocolmo contribua para pôr fim a este devastador conflito”, completou.
Perante os seus parceiros europeus e os líderes da Liga Árabe, o primeiro-ministro lamentou também “a falta de progressos”, e até mesmo “o retrocesso”, que se tem verificado no processo de paz entre Israel e os Palestinianos, garantindo que Portugal “mantém-se firme na defesa de uma solução de dois Estados, no quadro das pertinentes resoluções das Nações Unidas”.
Alargar a Plataforma Global para Estudantes Sírios
Numa parte do discurso dedicada à questão das migrações, António Costa revelou a intenção do Governo português em alargar a iniciativa Plataforma Global para Estudantes Sírios a estudantes de outros países, como o Iraque, o Iémen e a Líbia, e alargar a cooperação com instituições de ensino da Liga Árabe.
O primeiro-ministro português defendeu que os dois blocos têm de enfrentar em conjunto a questão das crises migratórias, construindo “canais de cooperação” que beneficiem diretamente os cidadãos, “em especial os jovens”, reforçando “o intercâmbio universitário, promovendo novas qualificações e oportunidades e encorajando os contactos ao nível das sociedades civis”.
“Um exemplo concreto é a Plataforma Global para Estudantes Sírios, iniciativa do antigo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio. Esta iniciativa, que permitiu já acolher em Portugal centenas de estudantes sírios, visa dar-lhes uma oportunidade de completarem os seus estudos universitários, habilitando-as a contribuírem para o futuro do seu país”, referiu, anunciando que Portugal quer estender o alcance da iniciativa.
Lembrando que Portugal é o sexto país da UE que mais refugiados acolheu ao abrigo do Programa de Recolocação, na sua maioria sírios, iraquianos e eritreus, o primeiro-ministro enalteceu ainda a solidariedade portuguesa com “todos os países de acolhimento na partilha dessa responsabilidade” e o trabalho que o seu Governo tem realizado “com outros países europeus e árabes para fazer face à situação dramática vivida pelos refugiados e aliviar os países da linha de frente em ambas as margens do Mediterrâneo”.
“Como país próximo do Mediterrâneo, com profundas ligações históricas e culturais ao mundo árabe, Portugal atribui um significado muito especial a esta cimeira. O propósito que nos move é claro: acreditamos que é necessário recriar em torno do Mediterrâneo um espaço de prosperidade partilhada. Recuperar o tempo em que o Mediterrâneo não era uma barreira a separar dois mundos, mas o ponto de encontro, de trocas e de convivência entre diferentes povos. Pela nossa parte, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para o conseguir”, comprometeu-se.
Diante dos seus parceiros europeus e dos líderes da Liga Árabe, o chefe do Governo evidenciou ainda os valores universais pelos quais Portugal pugna, nomeadamente “o respeito pelos direitos humanos, dos homens e das mulheres, o direito a uma vida digna, à segurança, ao trabalho e à participação política”.