Falando aos jornalistas depois de terem estado reunidos cerca de duas horas e meia, António Costa e Alberto Fernandez, que desempenham neste momento, respetivamente, as presidências rotativas da União Europeia e do Mercosul, concordaram que o assunto que hoje envolve maior preocupação em ambos os blocos económicos passa pela rápida conclusão do acordo comercial, reconhecendo o líder do Governo português que este é um acordo que aponta para um “imenso potencial económico”, com um peso e uma importância muito significativa não só nas economias dos dois blocos regionais, mas com um alcance também muito considerável “à escala global”.
Ultrapassada em parte a crise pandémica da Covid-19, é agora tempo de dar prioridade à reconstrução das economias e de “vencer a crise social”, defendeu o primeiro-ministro, sustentando que estes são pressupostos que se enquadram objetivamente dentro do acordo económico que os dois blocos têm estado a negociar, reconhecendo António Costa que o atraso que ainda se regista na conclusão do acordo resulta em grande medida do facto de qualquer negociação, sobretudo quando estão envolvidas questões de âmbito económico, implicar “interesses de um lado e do outro que importa superar”.
Há, contudo, como referiu o primeiro-ministro, um caminho que é possível palmilhar desde já por ambos os blocos, que passa por estipular um “compromisso complementar” sobre as alterações climáticas e a proteção das florestas, cabendo à União Europeia, na opinião de António Costa o “dever de apresentar a sua própria proposta”, numa altura em que começa a haver condições para se “encontrar um acordo rápido sobre estes dois temas”, que são “consensuais entre os 27 Estados-membros da União Europeia e em todos os países do Mercosul”.
Resolvidos os temas ambientais, todo o clima político, referiu o primeiro-ministro, terá tendência a “mudar completamente” entre a União Europeia e o Mercosul, o que permitirá, logo numa segunda fase, avançar “para os acordos de âmbito comercial”, o que criará um clima de maior confiança para os agentes económicos.
Relação bilateral
Neste encontro os dois chefes de Governo trocaram ainda impressões sobre as diversas oportunidades que se abrem à cooperação bilateral, designadamente em domínios como os projetos científicos, designadamente “para melhor conhecimento dos oceanos, do espaço e das alterações climáticas”, tendo ainda sido falada a possibilidade da reabertura das ligações aéreas diretas entre Portugal e a Argentina, lembrando António Costa que ambos os líderes mostraram disponibilidade para continuar a trabalhar na perspetiva de uma cooperação triangular, “em particular com os países africanos”, de modo a aproveitar, como também mencionou, o “enorme saber da Argentina no agroalimentar para ajudar ao desenvolvimento de África”.
O Presidente argentino, Alberto Fernandez, que iniciou em Portugal um périplo por vários países europeus, referiu-se ao encontro com o primeiro-ministro português, António Costa, como “um encontro entre dois povos irmãos”, aludindo às origens de muitas gerações de emigrantes, sublinhando que “Portugal é, e deve ser, uma porta de entrada da América Latina na Europa”.