Não estamos aqui neste jantar comemorativo do aniversário do PS, disse António Costa, apenas e só “a recordar e a comemorar os 50 anos que já passaram”. Mas, sobretudo, “a alargar o nosso horizonte, com os olhos postos no futuro, para não termos de estar sempre a olhar para o chão”, citando, aliás, palavras ditas momentos antes pelo líder histórico do PSOE, Filipe González.
Mas se o futuro é o que importa, defendeu António Costa, é bom que também “ninguém esqueça a luta sem tréguas” que os socialistas travaram nos primeiros anos da democracia portuguesa após abril de 1974, pela liberdade política e pela liberdade sindical, numa altura, como lembrou, em que o chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC) estava no auge, liderado então pelo partido comunista e por militares próximos do PCP.
António Costa lembrou, a propósito deste período conturbado da nossa história recente, que foi o PS, sozinho e liderado por Mário Soares, que tomou a dianteira da luta pela liberdade e pela democracia, numa altura, como também recordou, em que pelo país ecoava de norte a sul o slogan “Portugal é do povo não é de Moscovo”.
Saudou depois todos os anteriores secretários-gerais do PS, realçando as profundas mudanças operadas no país ao longo de todos estes anos pelos sucessivos governos socialistas, “incluindo os de José Sócrates”, recordando, entre outras, a permissão do divórcio para casamentos católicos, a autonomia do Ministério Público no sistema de justiça, a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com António Arnaut, ou, entre muitos outros, a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia, com Mário Soares.
Mais recentemente, disse ainda o também primeiro-ministro, com o Governo atual, foram já eliminadas muitas desigualdades que existiam, sem, contudo, deixar de reconhecer que as transições climáticas e digitais “estão a criar novos riscos de desigualdade”, garantindo que o Governo está atento e que “ninguém ficará para trás”.
Hoje, felizmente, disse António Costa, “já não há uma ditadura a enfrentar em Portugal como no tempo da fundação do PS”, mas há, como reconheceu, “um conjunto de outros desafios”, apontando em especial para o populismo que diz ser “uma ameaça à democracia que se impõe combater”. Lembrou depois que, se a guerra hoje é outra, também terá de ser outra a “nova trincheira” a construir, defendendo que as comemorações dos 50 anos do PS terão de ser a nova porta que se abre a “novas perspetivas no horizonte, na ambição, na esperança e na convicção”.
Não há aqui, na construção dos novos caminhos comuns do desenvolvimento do país, nem novos nem velhos, “quando a empreitada nos envolve a todos”, considerando António Costa, contudo, que um dos desafios mais imediatos que a sociedade tem de saber enfrentar passa, em grande medida, por garantir “à parte mais jovem da atual geração”, que o país está a criar, as condições que lhe permitam dar o salto em frente para se aproximar cada vez mais e mais depressa dos parceiros europeus mais desenvolvidos.
Recados à direita
Muito pouco foi o tempo que o líder socialista ocupou a olhar, nesta intervenção comemorativa dos 50 anos do PS, para a direita, um contexto em que não deixou, contudo, de enviar um recado, acusando os partidos à direita do PS de “terem a inveja no seu ADN”, por estarem constantemente a vociferar quando outros países apresentam dados económicos próximos dos de Portugal, garantindo que o PS não sente, nesta como em outras situações, qualquer tipo de inveja, “mas satisfação”, alegando que para os socialistas a Europa nunca foi vista como “uma oportunidade para nós e uma desvantagem para os outros”.
Neste contexto, pegou no exemplo da antiga campeã olímpica da maratona, Rosa Mota, presente na efeméride, lembrando que, tal como ela, também os socialistas “nunca olham para trás e nunca deixam de fixar o olhar na meta”. Porque o objetivo dos socialistas, insistiu, “não é fazer comparações com os países menos desenvolvidos”, mas “apontar para os que estão mais desenvolvidos e prósperos”.