O Secretário-geral do PS confrontou ontem o líder do Chega, no debate pré-eleitoral para as legislativas antecipadas de 30 de janeiro, sobre as medidas e as soluções que defende para combater a corrupção, não bastando, como sustentou António Costa, agitar constantemente a bandeira, mas não avançar com nenhuma medida concreta.
Em matéria de combate à pandemia, António Costa começou por questionar o líder do Chega sobre a volatilidade da sua posição em torno da vacinação, manifestando satisfação por saber que André Ventura está agora disposto a tomar a vacina, aproveitando o Secretário-geral do PS para lembrar que a “vacinação é a arma fundamental para combater a doença” e que cabe aos políticos “dar o exemplo também nesta matéria”.
Taxa única de IRS seria instrumento “brutal” de desigualdade
Outro dos pontos de divergência clara no debate ficou vincada acerca da proposta do Chega sobre política fiscal, garantindo António Costa que o objetivo de uma taxa única de IRS para todos, independentemente dos rendimentos de cada um, não é defensável, sob nenhum ponto de vista, “numa sociedade que se quer justa” e equitativa, constituindo, pelo contrário, a “introdução de um fator brutal de desigualdade na sociedade portuguesa”.
Em relação ao exemplo, avançado pelo deputado do Chega, de que o desemprego em Portugal baixou menos percentualmente do que em Espanha, o líder socialista aconselhou neste particular André Ventura a ler melhor as estatísticas, lembrando-lhe que o desemprego em Portugal baixou de “12,5% em 2015 para os 6,1% em 2021”, sendo que atualmente, como aludiu, no país vizinho o desemprego está nos 14,5%. António Costa fez ainda questão de lembrar que “o último corte de pensões foi feito em 2013, pelo Governo liderado por Passos Coelho”, quando André Ventura era militante do PSD.
Uma postura que comprova, segundo António Costa, que o deputado do Chega “passa pelos debates”, sobre as mais diversas matérias, “sem nunca falar do seu programa”, acusando-o de usar “técnicas próprias” utilizadas amiúde pelas “correntes radicais de direita”, nomeadamente, como descreveu, recorrendo “à generalização de casos particulares e de mostrar muitas fotocópias para encobrir a realidade”.
Como vincou o líder socialista, em política não pode valer tudo, recomendando a André Ventura que se lembre da última vez em que fez acusações falsas num debate, que resultaram “numa condenação no Supremo Tribunal de Justiça”, referindo-se António Costa ao caso da sentença por ofensas a uma família residente no bairro da Jamaica, no município do Seixal.
O primeiro-ministro e líder socialista teve ainda tempo para enviar um recado, dirigido a quem se deixa contaminar por forças políticas de extrema-direita como o Chega.
“O grande perigo dos partidos como o Chega é quando começam a ter capacidade de condicionar e influenciar os partidos democráticos, e quando começam aqui a baralhar. Vimos ontem [na quarta-feira] o senhor deputado André Ventura, que é bem falante, a conseguir até convencer o doutor Rui Rio de que a prisão perpétua não é bem prisão perpétua”, disse.
Reafirmando que o PS, pelo seu lado, não está aberto em nenhuma circunstância para “moderar o Chega, nem para o mitigar”, António Costa deixou uma certeza categórica.
“Comigo não passa, as suas ideias não passam”, garantiu.