“O discurso do Presidente da República foi muito pedagógico, porque demonstrou que uma pessoa da direita democrática, do centro-direita, não se tem que deixar condicionar, limitar, nem na atitude, nem nas palavras, nem no vocabulário, nem no discurso, por aquilo que é o ruído gerado pelo Chega. Demonstrou bem que, felizmente em Portugal, temos não só uma esquerda democrática, como temos uma direita democrática que preenchem a esmagadora maioria do espaço político nacional”, apontou António Costa, que falava na tarde de ontem nos jardins da residência oficial de São Bento, uma vez mais abertos aos festejos do 25 de Abril.
Segundo o chefe do Governo e líder do PS, aquele partido não teve, na sessão de boas-vindas ao Presidente do Brasil, no Parlamento, “apenas e só um dia falhado”, mas a continuação do que verdadeiramente “é e sempre foi o Chega”, criticando a atenção mediática – com particular responsabilidade para os órgãos de comunicação social – que é dada a “um partido ultraminoritário”, que representa “uma exceção e um dos piores perigos que existe para o futuro da democracia”.
Para António Costa, positiva e bem estruturada foi, em contrapartida, a intervenção do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, quando, entre outros argumentos, se referiu ao facto de Portugal dispor no seu espaço político de uma esquerda e de uma direita democráticas, que “preenchem a esmagadora maioria do espaço político nacional”, voltando a criticar a comunicação social pela visibilidade que é dada a um partido extremista de direita, assumindo que esta lhe é dada pelas televisões, as rádios e os jornais.
Dizendo-se preparado para enfrentar, por esta sua opinião, todas as críticas que vierem a ser feitas no espaço mediático, António Costa insistiu que a comunicação social dá mesmo “uma atenção desproporcionada àquilo que eles representam na nossa vida coletiva”, lamentando uma vez mais “a existência de uma ultra minoria que precisou de fazer barulho para suplantar em ruído a falta de representação popular que efetivamente tem”.
Quem é patriota, disse, “sabe respeitar a nossa História e a nossa relação com os povos irmãos”, mas sabe também, como acrescentou, respeitar “uma das maiores riquezas de Portugal” que é a sua língua, que não é apenas falada pelos cerca de 15 milhões de portugueses que vivem dentro e fora do país, mas também, designadamente, pelos milhões que vivem no Brasil, sendo “a quinta língua mais falada do mundo”.
Os “verdadeiros detentores do poder” são os cidadãos
Noutro passo da sua intervenção, o primeiro-ministro salientou que o Governo responde politicamente perante o Parlamento, porque os “verdadeiros detentores do poder em democracia são os cidadãos”, uma ideia, observou, que “só um ditador” como Oliveira Salazar “poderia ter invertido”, mas que “a democracia já corrigiu”.
“São os cidadãos que escolhem o 25 de Abril que em cada momento querem prosseguir. E é assim que devemos prosseguir para manter viva e renovar a nossa democracia”, defendeu.