António Costa
Político experiente e com provas dadas em todas as funções públicas que desempenhou, António Costa deixou marca por onde passou, como ministro e como autarca, mostrando a sua capacidade de gerar consensos. Gosta de encarar os desafios políticos que se colocam pela frente como se se tratasse de mecanismos de relógios suíços, em que é preciso pôr todas as peças a trabalhar em prol do objetivo definido.
Foi assim quando “herdou” o dossiê da Expo 98, exercendo o cargo de ministro dos Assuntos Parlamentares. Foi ele que pegou em mãos – a nível do Governo – a tarefa da concretização da Exposição Universal de Lisboa, que constitui um tremendo sucesso no plano da afirmação global de Portugal e um contributo inestimável para a autoestima dos portugueses. Como ministro dos Assuntos Parlamentares do XIII Governo Constitucional, revelou ainda toda a sua capacidade negocial com todas as forças políticas, ao garantir que todos os Orçamentos de Estado desse Governo tenham sido viabilizados pela Assembleia da República, apesar de não dispor de maiorias absolutas no Parlamento.
Já na qualidade de ministro da Justiça do XIV Governo, António Costa desencadeou um profundo trabalho de pacificação de um setor onde existiam profundas e públicas divergências entre os diversos operadores judiciários. Esse clima de pacificação permitiu a introdução de grandes melhorias no sistema da introdução da videoconferência nas sessões de julgamento, permitindo que testemunhas longínquas não tivessem de efetuar grandes deslocações para depor, até à introdução das pulseiras eletrónicas, permitindo aliviar a pressão sobre um sistema prisional com problemas de sobreocupação.
Com o PS na oposição, António Costa desempenhou as funções de presidente do grupo parlamentar socialista, antes de ser candidato ao Parlamento Europeu, numa lista liderada por António Sousa Franco, que acabou por obter a mais elevada votação do PS em eleições europeias, apesar da morte trágica do cabeça de lista, que levou António Costa a encabeçá-la.
Voltaria para o Governo para desempenhar as funções de ministro de Estado e da Administração Interna do XVII Governo Constitucional. Aí deixaria como marca a mais profunda reforma do sistema de proteção civil, que permitiu ao país estar preparado de forma muito mais adequada, competente e eficaz para combater o flagelo dos incêndios ou a eventualidade de catástrofes naturais, ainda hoje reconhecida como a reforma que permitiu virar uma página nesse setor. Dois anos depois, candidatar-se-ia a presidente da Câmara de Lisboa, para onde seria eleito em 2007 com 29,54% dos votos, sendo reeleito em 2009 com 40,22%, e em 2013 com 50,91%.
Em Lisboa, Costa começou por sarar as feridas de uma situação que colocou a edilidade de Lisboa numa profundíssima tripla crise financeira, política e de credibilidade. A sua vocação de “relojoeiro suíço” voltou a revelar-se, ao alargar a base do PS em acordos coligatórios com os movimentos Cidadãos Por Lisboa (Helena Roseta) e Lisboa é Muita Gente (José Sá Fernandes, eleito em 2007 pelo Bloco de Esquerda). A marca da sua passagem pela Câmara de Lisboa está à vista de todos. Nos últimos anos, Lisboa tornou-se de uma cidade amorfa numa cidade cosmopolita, vibrante e intercultural, ao mesmo tempo que saneou as finanças municipais (a dívida da CML diminui em mais de 40% nos últimos anos) e voltou a fazer da instituição uma instituição credível e respeitada.
Político experiente e com provas dadas, António Costa mostra que nem todos os políticos são iguais. Há quem cumpra a palavra dada e não prometa o que sabe que não pode cumprir. António Costa é assim. Também será assim como o próximo primeiro-ministro de Portugal.