“Anda comigo ver os aviões”… *
Uma operação de “encobrimento” do essencial: a poucos meses do fim da legislatura é inaceitável que o Governo queira deixar como herança para o futuro Executivo uma decisão desta importância estratégica (que vai muito para além da financeira) para o país, sem sequer tratar de envolver no tema os partidos da oposição e, designadamente, o Partido Socialista. Uma pressa que, como diz o povo, é sempre má conselheira e que, neste caso, não poderá deixar de ser considerada incompreensível e que, a manter-se, só poderá fazer com que a sua razão profunda seja, mais cedo ou mais tarde, apurada em todo o pormenor. Esta greve – apesar de também ela incompreensível – seria uma boa hipótese para o Governo cumprir aquela tripla regra de trânsito e de bom senso: pare, escute e olhe. Mas entre este Governo da direita e bom senso há manifestamente uma insanável incompatibilidade.
2 – Por estes dias, o tal do bom senso parece ser mesmo algo completamente afastado de tudo o que diga respeito a aviões e à direita a que temos direito. Revelando o seu absoluto e apurado sentido de Estado, o senhor Presidente da República – a caminho da Noruega – decidiu fazer uma série de considerandos sobre a data das eleições legislativas numa conversa de corredor de avião com os jornalistas que o acompanhavam, sem ainda ter sequer abordado o assunto com os partidos com representação parlamentar, conforme determina a Constituição. Minudências, claro.
3 – Longe dos aviões, em terra (aparentemente) firme, mas não menos extraordinariamente, ficámos também a saber por estes dias que, na opinião do ainda primeiro-ministro de Portugal, o paradigma do bom empreendedor da sociedade lusa é o Dr. Manuel Dias Loureiro. É bom saber.
Duarte Moral
*Título roubado a Os Azeitonas: “Anda comigo ver os aviões levantar voo/ A rasgar as nuvens/ Rasgar o céu”