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Ainda o financiamento dos partidos

Ainda o financiamento dos partidos

Opinião de:

Ainda o financiamento dos partidos

Uma certa direita mais à direita sempre teve quem lhe pagasse as contas das campanhas eleitorais. Era, aliás, uma forma que os “senhores dos anéis” tinham para controlar as decisões e os decisores, uma maneira de garantirem as “boas” autorizações administrativas que libertassem terrenos para construção, que permitissem mais uns pisos acima da cércea autorizada, mais umas empreitadas a preço baixo na adjudicação, mas com generosos e nunca suficientes trabalhos a mais. 

Foi sempre assim a direita dos interesses, é, ainda hoje, assim. 

É por isso que não estranho que os partidos desse lado do hemiciclo tenham aceitado reduzir o financiamento público aos partidos e às campanhas eleitorais. 

O que mais me irrita é que os partidos à esquerda do PS tenham alinhado no populismo anti partidos. Claro está que o PCP o fez a contragosto, porque sabe bem que a sua máquina se funda numa estrutura de assalariados, que a sua linha de animação e de contestação é cara e os bons tempos da militância estão a extinguir-se. Mas lá foi, porque a competição com o Bloco é coisa exigente. 

Mas fiquei profundamente irritado com o ar paternalista do Presidente da República quando nos disse que achava que os partidos gastavam muito e as campanhas eram caríssimas. 

Gostaria que fizessem comigo uma conta. Se contabilizássemos todas as horas de televisão e rádio que o Professor Marcelo teve ao longo das duas últimas décadas nos diversos canais e lhe aplicássemos os preços de publicidade que nos são dados pelas tabelas das agências que gerem essa publicidade, de quantos milhões de euros estaríamos a falar? Quem teve, em Portugal, igual tempo de antena? Quem poderia chegar-lhe aos calcanhares na notoriedade? 

Marcelo não precisou de dinheiro para a campanha porque a fez sem custos durante muito tempo e com ajudas preciosas como a de Marques Mendes, em canal diferente, mas com o mesmo sentido e “esperteza”. 

Nisto tudo parece ter havido a intenção de atacar diretamente o PS. 

Também há quem diga que as campanhas já não exigem cartazes, pendões, carros de som, grandes comícios, bandeiras ou sacos de plástico. Sim, é verdade! Mas as campanhas exigem novos recursos e muito dispendiosos. Os estudos de opinião, os grupos-foco, a informação dirigida, o acompanhamento das redes sociais, a monitorização da contrainformação, a qualidade dos conteúdos de campanha negra, a encriptação dos sistemas internos de informação, a segurança de pessoas, bens e redes, tudo isto é bem mais imperioso, é absolutamente exigente do que as antigas campanhas. 

Em Portugal os populistas acham que ainda podem olhar para outros tempos. Mas não podem. A decisão do parlamento sobre os recursos públicos para os partidos é amiga da corrupção e do tráfico de influências, é beneficiadora dos candidatos “a cargo”, é promotora de mais anormalidades no sistema partidário. 

Estou muito irritado e triste com o que aconteceu. Poucos terão pensado muito bem em tudo o que se passou.