O presidente do Grupo Parlamentar do PS referiu, no encerramento do debate sobre a situação na Ucrânia, proposto pelo presidente da Assembleia da República, que a Ucrânia “tem todas as contradições das guerras, do ataque e da defesa, do sangue derramado e, acima de tudo, da luta pela sobrevivência”, considerando que “talvez tenha sido aqui que, de forma trágica, se tenha equivocado o Presidente da Federação Russa”, uma vez que “a Ucrânia não se deixa derrotar pela ameaça, nem pela dificuldade extrema”.
A Ucrânia “resiste e resistirá para que, na fronteira, se possa viver de forma livre e próspera, na defesa dos valores que partilha connosco”, assegurou.
Eurico Brilhante Dias questionou se “será demais pedir a liberdade para se ser o que se quer ser, sem estereótipos de um século XX marcado pela guerra e pela opressão soviética e nazi; se será demais pedir a integridade territorial, no quadro do direito internacional, para administrar um espaço de fronteira, com um valor continental e transcontinental único”. “Não, não é pedir demais. É tão só pedir justiça e liberdade para trilhar um caminho próprio”, asseverou.
“À Ucrânia é devida a solidariedade democrática”, vincou o líder parlamentar do PS, que salientou que a luta dos ucranianos é também “a nossa luta” e “os nossos valores”: “Pela vida, pela liberdade, pela democracia e pela paz que construímos no pós-II Guerra Mundial e que tem no projeto europeu e na NATO pilares fundamentais, espaços de soberania partilhada e reforçada que são um guarda-chuva de pluralismo, de democracia e de segurança, de que o Portugal de abril nunca prescindiu e que é a ambição de pertença do povo ucraniano”.
Eurico Brilhante Dias assinalou em seguida que “Putin perdeu a guerra precisamente a 24 de fevereiro de 2022”, pois “foi ali, ao lado dos ucranianos, que dissemos ‘não’ à invasão, que nos dirigimos para a fronteira polaco-ucraniana e trouxemos e acolhemos lado a lado, sem brechas, contando com todos, cidadãos, municípios e administração central, sem poder esquecer a comunidade ucraniana que, vivendo em Portugal, teve um papel fundamental”.
Foi também nesses dias que os políticos responderam “a uma urgência empurrados por um sentimento comunitário em que o coletivo percebeu que esta guerra nos diz respeito”, mencionou o presidente da bancada socialista, acrescentando que coincidiu com a altura em que “a Europa afirmou de forma clara o princípio fundador da Declaração Schuman: ‘A paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços à medida dos perigos que a ameaçam’”.
Eurico Brilhante Dias não deixou de prestar homenagem “aos diplomatas e aos funcionários que em posto na Ucrânia, na Polónia e na Roménia serviram o país, servindo uma política externa que, sem tibiezas, esteve ao lado do agredido e condenou o agressor e que franqueou as portas de Portugal a quem mais precisava”.
Há uma nova paz a construir
Alertando que “a guerra que hoje faz um ano não está ganha”, o líder parlamentar do PS indicou que “se está perdida por Putin, a paz que almejamos tem dimensões geopolíticas, institucionais e económicas que estão ainda por desenhar e até mesmo por estudar”.
Por isso, “uma conferência fundacional para a paz pós-guerra será necessária. Há uma nova paz a construir em que contam ucranianos e russos, mas também muitos dos países da vizinhança a leste, sem que possamos descurar a vizinhança a sul”, defendeu.
“Por agora sabemos que a paz não se fará à custa da Ucrânia. Não fazendo dela um ente sacrificial no altar da ‘real politik’. Não é justo e não é isso que queremos. E isso já é meio caminho andado para a paz que queremos construir e para a derrota inevitável de Putin”, concluiu.