A ministra da Saúde, Marta Temido, participou no final da passada semana numa reunião informal dos ministros da Saúde da União Europeia na cidade francesa de Grenoble, num encontro onde o destaque principal foi para o alerta unânime de que os Estados-membros têm o dever de encontrar, o quanto antes, os instrumentos mais adequados que permitam apresentar a saúde como uma “marca de água” futura das políticas europeias.
Em declarações à agência Lusa, a partir de França, a ministra Marta Temido deixou a garantia de que todos os 27 ministros da saúde foram unânimes na defesa da criação de novos mecanismos de cooperação entre os Estados-membros, sem que este princípio, como também assinalou, “tenha de pôr em causa as competências nacionais” ou as contingências próprias de cada país, recordando que a resposta da União Europeia à pandemia “trouxe a oportunidade de uma colaboração que antes não era tão visível”, desde logo, com “as compras conjuntas até à receção de doentes em momentos de maior procura”.
Um novo olhar
Passada a pior fase da pandemia, como tudo o indica, o passo seguinte, na opinião da titular da pasta da Saúde, é a Europa dedicar a esta questão da saúde pública com um novo olhar, desenvolvendo a partir de agora “novas abordagens com sentido mais prático”, defendendo que o papel reservado à União Europeia tem de estar mais focado, não só nas questões relacionadas com as emergências sanitárias, mas também nas respostas às “ameaças transfronteiriças”.
Segundo a governante, apesar de todos os “limites legais” que não podem serem descurados ou postos em causa no que respeita ao percurso de cada Estado-membro no que envolve o seu próprio sistema de saúde, é inevitável, como sustentou, que se avance em matéria de políticas de saúde com medidas que se ajustem e encontrem um “denominador comum ao nível europeu”, designadamente em áreas como “a saúde mental ou a imunologia, ou como já sucede na área da oncologia”.
Marta Temido referiu-se ainda à necessidade de aumentar e de potenciar a “literacia em saúde”, referindo que a falta de informação é um dos aspetos em falta que mais têm contribuído para a existência de “alguns movimentos de contestação”, sejam eles mais ou menos negacionistas no que toca à questão da pandemia. Defendendo que os países e particularmente os responsáveis pela saúde de cada Estado-membro “têm mesmo de trabalhar para além do nosso mundo, do nosso caso ou do nosso retângulo”, a ministra lembrou que o mais recente relatório do eurobarómetro revela que a saúde é o tema que mais preocupa os cidadãos europeus, “incluindo Portugal”.
Cooperação discutida em Lyon
A saúde e a desejável cooperação futura entre os diversos Estados-membros da União Europeia foi igualmente assunto de uma reunião alargada entre os ministros da Saúde e dos Negócios Estrangeiros dos 27, encontro que decorreu na passada quarta-feira na cidade francesa de Lyon, com os responsáveis políticos a “definirem as linhas estratégicas da cooperação” e como torná-las “mais eficientes e mais úteis aos países de baixa e média renda”.
A propósito do modelo de cooperação, Marta Temido teve ainda ocasião para referir que “não basta doar vacinas”, sendo que a este propósito a União Europeia “é um dos maiores doadores”, defendendo que mais importante é que a Europa deixe a “marca dos seus valores” naquilo que é a sua relação com outros sistemas de saúde, trabalhando sempre mais e melhor para “reforçar a cooperação dos vários sistemas de saúde” dos 27 Estados-membros.