A nova “Calçada” de Alfama
É impossível olhar para a cultura e a identidade portuguesas sem pensar no Fado e em Amália Rodrigues. Ruben Alves, realizador da Gaiola Dourada, português com residência em França, percebe isso muito bem. Por essa razão lançou-se num novo projeto ligado ao Fado, com um documentário e também um disco, intitulado “Amália, as Vozes do Fado”.
O disco reúne, à volta de um repertório riquíssimo, grandes nomes da música de língua portuguesa como a Ana Moura, a Carminho ou a Gisela João, o Camané e o António Zambujo, mas também o Caetano Veloso, a Mayra Andrade ou o Bonga.
Foi justamente a pensar na capa deste disco que Ruben Alves lançou um desafio a Alexandre Farto, aka Vhils, nome de referência mundial na Street Art: uma intervenção de arte urbana de homenagem a Amália Rodrigues.
A execução do projecto ficou a cargo dos calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, e o resultado é o que a fotografia ilustra. É muito mais do que uma capa de disco, é uma magnífica intervenção em espaço urbano.
O Fado, a canção de Lisboa, é por definição uma canção popular e urbana, classificada pela UNESCO como património imaterial da humanidade. Um património desta dimensão faz-se de muitas histórias e de muitas vozes. Mas a voz das vozes do Fado é de facto a voz de Amália Rodrigues.
Nesse sentido, Amália é também ela Património da Humanidade e por isso repousa ao lado dos heróis nacionais no Panteão Nacional. Um símbolo desta dimensão estará sempre muito presente na nossa memória coletiva. Não pode estar apenas no Panteão ou numa Casa Museu: tinha de estar também nas ruas de Lisboa, porque foi nas ruas de Lisboa que se fez fadista.