A leoa, o peru e o bicho da seda
De acordo com evidência genética recente, foi há perto de 7.500 anos que os chineses começaram a domesticar o “bicho da seda” para obterem casulos com fios em maior quantidade e mais resistentes. Durante mais de 2.000 anos mantiveram esta técnica secreta e puniam com a pena de morte o contrabando destes animais. Curiosamente, até aos dias de hoje, a abelha de mel foi o único outro inseto domesticado a nível mundial.
Não é fácil definir em que consiste a domesticação. Os fragmentos preservados do genoma das espécies selvagens encontradas em descobertas arqueológicas permitem fazer comparações com os genomas das espécies “domesticadas”. Nos últimos anos, estes estudos têm permitido desvendar aonde e quando é que os seres humanos começaram esta evolução “forçada” a que hoje designamos por melhoramento. A informação de que dispomos, apesar de ainda muito reduzida, sugere que os mecanismos de adaptação neurológica dos animais à presença de humanos, sejam semelhantes em espécies diferentes.
A arqueologia dá-nos informação aproximada sobre o início da domesticação dos animais. Foi há perto de 15.000 para os cães, 11.000 anos para as ovelhas, 9.500 anos para os gatos, 5.500 anos para os cavalos e só 4.000 anos para as galinhas. Em locais muito diferentes do planeta, mas hoje, ubiquamente.
Para já, usamos quatro critérios para distinguirmos o “amansar” do “domesticar”. Os animais domesticados são geneticamente diferentes dos selvagens e transmitem essas alterações aos seus descendentes. Não é o caso de um animal selvagem amansado. Muitos de nós certamente se lembram da maravilhosa história da leoa Elsa contada no livro Born Free de Joy Adamson (1960), e que foi claramente amansada e não domesticada.
Em segundo lugar, na maior parte dos casos, os animais domesticados dependem dos humanos para a sua alimentação e reprodução. Em terceiro lugar, o seu cruzamento com as espécies selvagens torna-se muito difícil, senão impossível. Finalmente, tanto nos animais como nas plantas domesticadas, a presença do chamado “síndrome da domesticação” (por exemplo, crânios mais pequenos) terá de ser evidente.
No ano passado, investigadores encontraram ovos e ossos de perus com perto de 1500 anos em Oaxaca no México. A sua presença em túmulos de humanos sugere que possam também ter tido um significado simbólico e religioso. Hoje, algumas das espécies “melhoradas” de perus têm peitos tão grandes que não se conseguem reproduzir naturalmente. Precisam de ser inseminados artificialmente.
No caso dos humanos, parece que a agressividade excessiva começou a ser selecionada negativamente há 200.000 anos, mas o processo parece ter sido mais complexo e bastante mais lento. Por vezes temos dificuldade em perceber se não terão sido só amansados, e nem por isso!