A DIREITA DISPARATA, A ESQUERDA GOVERNA
O cessante, Passos Coelho, representou a direita miguelista e caceteira e sai da cena com afirmações disparatadas, como foi apanágio do seu triste mandato. Mas os dislates da direita continuam, e de que maneira, a fazer-se ouvir. A afirmação de Nuno Melo, eurodeputado do CDS, relativa ao caso Centeno, já arquivado, de que teria de haver consequências políticas, se o ministro fosse acusado, parece-me absurda, mas, vinda donde vem, não me surpreende, pelas razões que já referi. Nuno Melo, imagine-se, queria consequências políticas de um caso, tao estéril como ridículo, referente aos bilhetes do Benfica. Mário Centeno – é evidente que Costa não deixava – tinha de se demitir. Tudo por causa de um jogo de futebol. O descrédito do país, que esta história patética alimentou, seria, então, total. A Europa interrogava-se, se é que já não o fez, sobre a nossa sanidade mental. E esse grande político que foi Almeida Santos, se fosse vivo, diria: o país ensandeceu!
Na semana passada, nesta mesma coluna, critiquei o baixíssimo nível da maioria da nossa comunicação social, no que fui acompanhado, entre outros, por Miguel Sousa Tavares, um camarada de profissão que prezo bastante, e que apontou o dedo acusador ao Correio da Manhã. Muito antes do caso Centeno, já Sousa Tavares, e agora sou eu que o acompanho, tinha dito que o jornalismo praticado pelo Correio da Manhã é de sarjeta! Felizmente que o jornal em apreço não está a singrar no nosso meio jornalístico: em dois anos apenas, perdeu 20 mil exemplares vendidos por dia! Em relação à Justiça, penso que a posição do primeiro-ministro, já evidenciada no caso Sócrates, de respeitar a separação de poderes, é a mais correta.
E a que melhor serve a democracia. À política o que é da politica, à Justiça o que é da Justiça. É, sem dúvida, um bom princípio, diria mesmo elementar, o que não significa, porém, que esta última seja intocável. Nas sociedades democráticas, ninguém esta a salvo da crítica. E se a Justiça não deseja que os cidadãos vivam acima da lei, também, ela própria, não deve estar acima da lei. O PS nunca pôs em causa a autonomia do Ministério Público. E até ouvi António Costa dizer, num debate quinzenal: se alguém tem respeitado essa autonomia, sou eu! Houve, também, outra afirmação recente do primeiro-ministro, não sobre a Justiça, mas de política geral, que me pareceu marcante e que passou algo despercebida. Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, e falando do acordo de esquerda, disse: “Nunca houve divergências sobre questões fundamentais para o país”. Bem elucidativa esta declaração de António Costa.
Ainda mais recentemente, no debate quinzenal do passado dia 1, o primeiro-ministro afirmou, dirigindo-se a Jerónimo de Sousa: vamos juntos! Se dúvidas ainda subsistem, porventura, nos espíritos mais céticos, que se têm, aliás, enganado, sobre a solidez da ‘geringonça’ e do seu futuro como solução política, teriam ficado totalmente desfeitas, com estas intervenções de António Costa. Se me permitem a expressão, o acordo de esquerda tem pés para andar! Nunca de tal duvidei, tendo-o defendido sempre. É a melhor solução política para o país. Ontem, o primeiro-ministro esteve ausente dele, momentaneamente, claro. Deslocou-se a Madrid, onde inaugurou uma exposição de Fernando Pessoa e se avistou com Mariano Rajoy. O insigne poeta da Mensagem dizia, em tom irónico: estou velho, por causa do Estado Novo! Mas, este, felizmente, já foi deposto. A democracia está quase a fazer 44 anos. O encontro com Rajoy diz-nos que Portugal e Espanha nunca podem viver de costas voltadas.